sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

O VALOR DE KSHAMA


O Valor de Kshama

Por Tânia Calheiros




A Haṭha Yoga Pradīpikā é a mais importante obra escrita sobre Haṭha Yoga. Pradīpikā significa luz brilhante, comentário, explicação. A obra é então a explicação sobre os métodos do Haṭha Yoga. Escrita por Svātmārāma, que viveu por volta do século XIV d.C., tem como conteúdo as técnicas fisiológicas e práticas contemplativas do Rāja Yoga. A Haṭha Yoga Pradīpikā consta de quatro capítulos, somando um total de 389 versos (ślokas), embora possa variar consoante a edição.
No primeiro capítulo são descritos dezasseis āsanas (posturas psicofísicas), a sua maioria sentados, requisitos para a prática e a dieta que o praticante deve seguir. No segundo capítulo explicam-se as várias técnicas de prāṇāyāma (exercícios respiratórios) e śatkarma (purificações). O terceiro capítulo expõe o processo de despertar a energia potencial e é complementado pelas mudrās (gestos corporais), bandhas (contracções) e outras práticas tântricas de manipulação energética.
O quarto capítulo apresenta as técnicas de percepção do nāda, o som super subtil interior, audível quando as nadīs (canais psico-energéticos) estão devidamente purificadas, fala sobre lāyā, a dissolução da individualidade no todo e ainda nas diferentes etapas de sāmadhi, a iluminação.
No primeiro capítulo, a partir do śloka 16, a Haṭha Yoga Pradīpikā apresenta-nos 10 yamas e 10 niyamas, demonstrando ao praticante a importância da observação desses valores na conduta para consigo e para com os demais. Nos nossos dias, esta obra tem um cariz de suma importância, já que vem provar que o Haṭha Yoga não se reduz só à prática de āsanas e prānāyāmas.
É importante diferenciar o que é ética e o que é moral. Ética é algo que é universal, e por isso intemporal, existe para além das características socioculturais de um país. Moral é algo local, circunstancial. Assim sendo os yamas e niyamas passam a ser entendidos como universais inerentes a qualquer ser humano e em qualquer contexto.
O código de ética vinculado nesta obra deve ser sempre alvo de atenção e observação por parte de todos nós. Viver uma vida de acordo com estes valores é o caminho que nos ajuda a amadurecer a mente e a prepará-la para o ensinamento. Um dos 10 yamas abordados na Hatha Yoga Pradīpikā é kṣamā. O texto que se segue tem como base a observação e reflexão sobre este valor.
O significado do valor Kṣamā
Kṣamā significa paciência. É a capacidade de perdoar e de aceitar todas as situações sem ser perturbado. Quando as coisas correm de um modo diferente daquilo que eu esperava, quando alguém tem um comportamento que eu considero inadequado para mim ou quando eu tenho dificuldade em aceitar-me a mim mesmo como sou surge, na minha mente, um sentimento de raiva ou ódio. Kṣamā é o antídoto para estes dois sentimentos indesejáveis.
A importância de kṣamā no dia-a-dia
Kṣamā é um precioso instrumento para ser usado ao longo do meu dia. Observando kṣamā eu fortaleço a minha relação com os demais e com o que me rodeia. Desenvolver kṣamā é saber perdoar, aceitar, ter paciência e não sentir ansiedade pelo que me possa provocar irritação, ódio ou medo. Desenvolvendo este valor durante um período considerável de tempo eu aprendo a aceitar os outros como são, acomodando-os na minha mente.
No nosso dia-a-dia relacionamo-nos com pessoas e objectos. Estes podem provocar-nos contentamento, desânimo ou decepção e isto não deveria acontecer. O meu estado de serenidade não depende dos outros porque eu já sou esse estado de paz, eu sou pleno. As pessoas, as experiências e os objectos estão sempre a mudar, no entanto eu não mudo, eu sou o único que permanece sempre o mesmo.
Se a minha felicidade depender do mundo que me rodeia e do que os outros possam ou não fazer por mim, a minha vida está sujeita a oscilar entre momentos de grande alegria e tristeza. Eu devo entender que saber perdoar e aceitar as coisas como são me traz serenidade, e com esta serenidade mais facilmente percebo a paz e a felicidade que eu sou. Então devo aprender como conseguir que essa serenidade se estabeleça permanentemente ekṣamā é um dos valores que me ajudará nesta tarefa.
Kṣamā, o antídoto para a raiva, o ódio e o medo.
Swami Dayananda menciona no livro “Liberdade” que a vida não é possível sem nos relacionarmos com o mundo, sejam pessoas, animais, plantas, etc. Ao relacionarmo-nos com o mundo estamos sujeitos a sentir emoções, umas agradáveis outras menos agradáveis. Dependendo do nosso grau de maturidade, quando algo nos desagrada, podemos sentir raiva, ódio e medo pela situação, pessoa ou objecto em causa.
Por vezes estes sentimentos são subtis, mas ainda assim existem e devemos dar a devida atenção, caso contrário corremos o risco destes crescerem e se instalarem em nós definitivamente o que nos impede de tornar a nossa mente mais sadia, originando sofrimento desnecessário. A raiva surge quando uma pessoa, situação ou objecto provoca em nós descontentamento. Quando não aceitamos algo como ele é a minha primeira reacção é de irritação ou raiva.
A raiva passa a ser um problema se não lhe dermos a devida atenção. Ela pode durar um momento apenas ou permanecer em nós até morrermos, em qualquer uma das situações
é-nos prejudicial. Num momento de raiva podemos destruir amizades, relações, destruir objectos, agredir a natureza e inclusive a agredirmo-nos a nós próprios. A raiva pode permanecer em nós até ao fim da nossa vida, pode crescer e transformar-se em ódio e este instala-se no nosso coração, corrói-nos por dentro e transforma a nossa mente numa mente doente.
Uma mente com ódio nunca está em paz, nunca está serena. Uma mente com ódio é uma mente doente e uma mente doente não está preparada para ouvir o ensinamento. Não me devo deixar irritar com as situações, nem me sentir provocado pelas pessoas porque não tenho qualquer controlo sobre o seu comportamento, mas posso escolher ser sempre calmo, sem me irritar e sem me provocar. Como yogi devo olhar para o ódio como algo muito sério porque se não o trato de forma especial e durante um período de tempo considerável ele nunca desaparecerá.
Podemos curar esse ódio desenvolvendo kṣamā. Eu devo fortalecer a minha mente para que ela fique serena, para que ela aceite pacificamente os outros como são, para saber perdoar, aceitar e acomodar os outros na minha vida. Não é necessário amar essa pessoa, objecto ou situação, basta aceitar, basta não odiar. É muito mais fácil quando sabemos que temos oportunidade de escolher, podemos sempre escolher entre odiar ou não odiar. Quando escolhemos a segunda hipótese, não odiar, a nossa mente reconhece um estado de paz, não se irrita e assim zelo pelo meu bem-estar, pelo meu crescimento e maturidade, porque eu não quero ficar doente.
Eu devo simpatizar com o outro aceitando a sua imaturidade e pedir para que ele cresça, posso usar kṣamā para com esta pessoa porque perdoando-a obtenho paz e serenidade. Isto é kṣamā e desenvolvendo este valor obtenho Kṣāntiḥ.
Outro problema mental é o medo. O medo é universal e exprime-se na nossa vida sob a forma de diferentes ansiedades, umas mais suaves outras mais fortes. Sabemos que esta ansiedade é totalmente inútil, não podemos mudar o futuro pois ele ainda nem aconteceu. O medo é formado por nossas emoções repetidas, ou samskaras/vāsanās. Para que estas desapareçam eu devo praticar o oposto, devo sentar-me calmamente, trazer para fora o que me cria ansiedade e perceber que por trás disso existe uma mente forte, que eu não sou essa ansiedade.
Devo entender que a ansiedade em relação ao futuro não faz parte de mim, e que em nada me ajuda. Devo entender que o desconhecido será sempre uma mistura de bom e de mau e que eu terei de viver com isso. Devo lembrar que não preciso sentir medo em relação ao futuro ou aos outros. Devo conhecer a mim mesmo com paz. Tudo faz parte do meu crescimento e tudo é necessário para esgotar o meu karma. Nós não controlamos o que nos pode vir a acontecer porque simplesmente ainda não aconteceu. Por isso eu devo aguardar pacientemente e sem ansiedade o futuro, aguardo em estado de kṣamā. Durante o meu dia procuro aplicar esse valor sempre que algo me provoca irritação, paro no momento e observo o que se está a passar, vejo a situação ou a pessoa de fora, e identifico claramente o que está a originar esse estado de irritação. Depois de identificar isso em mim, assumo que devo aceitar o outro como ele é, eu não sou esse estado de irritação, nem quero que este se desenvolva em mim e que me contamine. Aceito o que está a acontecer, sem odiar. Torno-me mais serena, mais tranquila. O mesmo acontece com o medo, não posso controlar o meu futuro, por isso aceito serenamente o que tem de vir, agradeço o que está a acontecer e o que ainda irá acontecer.
Kṣamā pode ser desenvolvido na minha meditação diária durante algum tempo, meditando neste valor fortaleço a minha mente tornando-a mais madura para lidar com as situações do quotidiano. Durante a prática de Yoga eu observo também kṣamā, torno-me paciente e serena comigo própria assumindo as minhas limitações, não me irrito com o facto de eu não conseguir fazer determinado exercício, não me irrito com facto de fazer frio ou calor, eu simplesmente aceito serenamente o que me é oferecido.
Kṣamā mostra-nos o que nós já somos, faz-nos reconhecer esse estado de paz, felicidade, plenitude que já somos. Kṣamā ajuda-nos a crescer e a fortalecer a nossa mente preparando-nos para Ātmā Jñāna, o conhecimento do Eu.

Este texto foi escrito com base nos ensinamentos de Swami Paramarthananda e Pedro Kupfer.
Tânia é professora de Yoga em Portugal e dirige o CEY, Centro de Estudos de Yoga, www.yogacey.com.

sábado, 15 de janeiro de 2011

RETIRO DE YOGA NA QUINTA DAS ÁGUIAS, 25, 26 E 27 DE FEVEREIRO

Namaste,

É com muito entusiasmo e alegria que anuncio o próximo retiro que darei com o Bruno, que acontecerá na Quinta das Águias, em Fevereiro, dia 25, 26 e 27.

Como muitos já sabem, o Bruno está a desenvolver-se bastante na área do Nada Yoga e Tantra e tem feito um trabalho, a meu ver, muito interessante e inovador, conseguindo proporcionar-nos vivências sonoras de grande profundidade. A massagem de Som e a massagem terapêutica juntam-se e criam um ambiente de relaxamento e introspecção, onde todos somos participantes activos e passivos. A introspecção, a terapia e o reconhecimento de que somos Consciência são a proposta com que o Bruno nos brinda.

Eu proponho-me a fazer uma introdução aos Yoga Sutras de Patanjali, um tratado importante sobre Yoga. Aqui iremos estudar alguns dos sutras que nos falam sobre a natureza essencial do Ser Humano, criando assim uma oportunidade para a reflexão e para o auto-estudo.

Apenas temos 20 vagas, inscreve-te.
O valor do retiro são 160eur, incluido refeições e alojamento.
As incrições apenas se efectuam com o pagamento, não serão feitas devoluções.



Para inscrições:
dharmayogamandir@gmail.com
Paulo Jorge Vieira
934867182
Nib para transferência: 0007 0513 0001 0770 0079 1 - Paulo Jorge Vieira

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Grupo de Mantra de Domingo à tarde - dia 9 Janeiro

Foi com muita alegria que estivemos todos juntos a mantrar durante quase três horas. O encontro aconteceu, como já vem sendo hábito, no Pazpazes e foi uma viagem de devoção e entrega muito muito boa :)
Agradeço a todos os que tornaram este encontro tão especial, um abraço com  muito carinho a todos.

O próximo é já no primeiro Domingo de Fevereiro. De manhã temos a prática intensiva e de tarde os Mantras :)

Aqui têm algumas fotos!!!










sábado, 8 de janeiro de 2011

Ujjáyí, o pránáyáma nas escrituras clássicas do Hatha Yoga



Por Miguel Homem





Depois do súryabhedhana, a Hatha Yoga Pradípiká e a Gheranda Samhitá citam o ujjáyí como o kúmbhaka seguinte, o segundo e o terceiro de cada um daqueles textos, respectivamente.

Segue-se a descrição do ujjayí pránáyáma, a respiração vitoriosa com contracção da glote:

a)      Inspirar pelas narinas, contraindo levemente a glote e produzindo um leve ruído que deve ser suave e contínuo;
b)      reter o ar nos pulmões com a glote totalmente fechada e jalándhara bandha;
c)       expirar pelas narinas, contraindo a glote e produzindo o mesmo ruído suave do atrito do ar na garganta, que Swami Satyananda chama de suave ressonar.
        
         Costumo pedir aos meus alunos que têm dificuldade em perceber como se contrai a glote para deglutirem a saliva. O movimento que se cria ao nível da garganta é uma contracção da glote. Basta, então, criar esse movimento e mantê-lo de forma à glote ficar parcialmente fechada e inspirar e expirar dessa forma, como se o ar entrasse e saísse directamente pela garganta.
         Theos Bernard foi ensinado a lavar a língua e a boca antes de começar este pránáyáma[1].
         Mais uma vez deixei uma sugestão simples da prática do ujjáyí que não é mais do que uma entre outras. André Van Lysebeth, por exemplo, dava a seguinte indicação: “Kúmbhaka deve acompanhar-se necessariamente de múla bandha. Isto é muito importante.[2]” Indicação que B.K.S Iyengar[3] também dá para os estágios mais avançados do pránáyáma. Já o ensinamento de Swami Satyananda é no sentido do pránáyáma ser praticado com o khecharí mudra.
         O ujjáyí aumenta a temperatura e o calor corporal, normaliza o funcionamento da glândula tiróide e do sistema endócrino, estimula o relaxamento e a interiorização.

         O ujjáyí é uma técnica auxiliar de várias meditações, como no ajapa-japa. Muitos também conhecem este pránáyáma de algumas práticas de ásana, como a do ashtánga vinyasa yoga. Ele é utilizado não só pelos seus efeitos físicos, mas também porque facilita a concentração na respiração e no ritmo respiratório, o que promove uma maior vivência do ásana.

        
         Vejamos, então, o que nos diz a Hatha Yoga Pradípiká[4]:
         “Ujjáyí: com a boca fechada, inala-se lentamente por ambas as fossas nasais, de tal forma que o ar produza um ruído (surdo) ao passar pela garganta em direcção aos pulmões. Depois, pratica-se kúmbhaka segundo a descrição anterior, mas exalando pela narina esquerda (ídá); com esta técnica eliminam-se os problemas de excesso de mucosidade na garganta e incrementa-se a capacidade digestiva.” (II, 51-52).

         “Pratica-se kúmbhaka segundo a descrição anterior”, ou seja, segundo a descrição do súryabhedana – “praticar kúmbhaka até sentir o prána penetrar em todo o seu corpo, desde a ponta dos cabelos até às unhas dos pés”. Valem as mesmas considerações feitas anteriormente, lembrando que as retenções com ar prolongadas devem ser sempre mantidas com jalándhara bandha. Este bandha estimula o sistema para-simpático, regula os batimentos cardíacos, respiração e pressão arterial de forma a permitir um estado de relaxamento e bem-estar sem riscos durante a retenção.
        
         Admitem-se algumas formas de ujjáyí. Variações no que toca à expiração são um exemplo. Assim, o texto citado indica a expiração pela narina esquerda, quando na Gheranda Samhitá parece estar sugerida a expiração pela boca.

“A respiração ujjáyí também cura a hidropsia e os desequilíbrios nas nádís e nos dhátus; este kúmbhaka pode ser praticado em pé, estando imóvel ou caminhando.” (II, 53).

Esta citação dá-nos mais uma referência sobre os efeitos do ujjáyí pránáyáma. Ficamos a saber que pela sua prática são corrigidos os desequilíbrios nas nádís e nos dhátus. A referência às nádís é familiar. Os dhátus são os constituintes do organismo e são em número de sete: a pele (rasa), o sangue (rakta), a carne (mámsa), a gordura (medas), o osso (asthi), a medula (majjá) e o esperma (shukra).
Refira-se que este é o único pránáyáma citado nas três escrituras que temos referido (Hatha Yoga Pradípiká, Gheranda Samhitá e Shiva Samhitá) sobre o qual se dá indicação expressa de que poderá ser feito em pé e tanto imóvel como em movimento. Percebe-se assim, porque em muitas práticas de Hatha Yoga ele é utilizado durante a prática de ásana.

          Gheranda Samhitá[5]:
         “Feche a boca, inspire o ar externo por ambas as narinas, e eleve o ar interno dos pulmões e garganta; retenha-o na garganta. Então tendo lavado a boca (isto é, expelido o ar pela boca) execute jalándhara. Que ele execute kúmbhaka com todo o seu poder e retenha o ar confortavelmente.” (V, 69-70).

         De acordo com de Pancham Sinh e Rai Bahadur Srisa Chandra Vasu[6], a referência “tendo lavado a boca” é uma indicação da expiração pela boca. Desconhecem-se os motivos daqueles tradutores para tal interpretação, apesar de se reconhecer o sentido da mesma. Em sentido diferente, o Yogí Pranavánanda, na sua tradução e comentário da Gheranda Samhitá dá-nos a seguinte tradução:
         “Inspire o ar exterior por ambas as narinas e retenha-o na boca. Eleve o ar dos pulmões e garganta e retenha-o na boca. Com a boca assim lavada e fechada, execute jalándhara bandha. Kúmbhaka deve ser praticado com toda a sua capacidade, mas sem desconforto”[7] (V, 69-70).

         Seja como for, a essência do pránáyáma não se altera. À boa maneira yogí há que experimentar e observar...
         O que já não é indiferente é que, conforme se siga uma ou outra tradução, a retenção é feita sem ar (no primeiro caso) e com ar (no segundo), cada uma com intenções e resultados diversos. Haverá, pois, que decidir conscientemente.

         “Todos os obstáculos são conquistados pelo ujjáyí kúmbhaka. Aquele que o pratica nunca se vê afectado por doenças de fleuma e doenças nervosas, indigestão, desinteria, definhamento, tosse, febre e dilatar do baço. Que um homem execute ujjáyí para conquistar a velhice e a morte” (V, 69-70).

         Jaya, Jaya!



[1] Hatha Yoga, The Report of a Personal Experience, 4ª Impressão, Essence of Health Publishing, 2001, Africa do Sul, pag 52.

[2] André Van Lysebeth, Pranayama, A la serenidad por el yoga, EdicionesUrano, 1985, Barcelona, pag. 237, tradução do autor.
[3] Veja-se B.K.S. Iyengar, Luz sobre el Pránáyáma, 2ª Edição, Editorial Kairós, 2001, Barcelona, Espanha.

[4] Svatmarama Yogendra, Hatha Yoga Pradipika, Tradução de Pedro Kupfer, Instituto Dharma-Yogashala, 2002, Florianópilis, Brasil.
[5] Tradução para o português feita pelo autor a partir de The Forceful Yoga, Being the Translation of Hathayoga-Pradipika, Gheranda-Samhita and Shiva-Samhita, tradução para o Inglês de Pancham Sinh e Rai Bahadur Srisa Chandra Vasu,  1ª Edição, Motilal Banarsidas  Publishers, 2004, Delhi, Índia.
[6] The Forceful Yoga, Being the Translation of Hathayoga-Pradipika, Gheranda-Samhita and Shiva-Samhita, tradução para o Inglês de Pancham Sinh e Rai Bahadur Srisa Chandra Vasu,  1ª Edição, Motilal Banarsidas  Publishers, 2004, Delhi, Índia, pag. 131.
[7] Tradução para o português feita pelo autor a partir de Pure Yoga (A translation from the  Sanskrit into English of the tantric work, The Gherandasamhita with a guiding commentary by), Yogi Pranavananda,  reimpressão da 1ª Edição, Motilal Banarsidas  Publishers, 2003, Delhi, Índia.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

PARA QUE SERVEM OS MANTRAS?

Para que servem os mantras?


por Pedro Kupfer







1) Para que servem os mantras?
A palavra mantra significa em sânscrito 'instrumento para o pensamento [adequado]' (man = pensamento, mente; tra = instrumento). Basicamente, um mantra é um som que tem um significado e tem como objetivo lembrar algo importante para o praticante. Esse som pode consistir em um monossílabo, como o mantra Om, uma frase curta, como Om Gam Ganapataye namah ('eu saúdo Ganesha, o deus-elefante'), ou uma estrofe de 24 sílabas, como é o caso do Gayatri mantra. O mantra pessoal é prescrito tradicionalmente por um mestre, em função da necessidade do praticante.

2) Como podemos usar os mantras na prática? Por exemplo, quantas vezes devemos fazê-los?
Tradicionalmente, um número razoável de repetições é 108. Para um mantra polissilábico como o Gayatri, por exemplo, isso significa uns 20 minutos por prática. No entanto, há práticas como o purashcharana, em que se fazem 1000 repetições diárias até completar 2.400.000 ao cabo de sete anos. Isso totaliza 100.000 repetições por cada uma das 24 sílabas do mantra.
Outra maneira de usar os mantras é associar a sua repetição mental com a respiração, como no caso do ajapa japa, técnica que consiste em acompanhar a observação da respiração com a mentalização do mantra so'ham.

3) O que precisamos fazer para entoá-los?
O Kularnava Tantra nos ensina que há três formas de fazer um mantra: mentalmente, murmurando, e em voz alta. Dessas maneiras, considera-se que o mantra murmurado seja mais poderoso que aquele feito em voz alta, e que o mantra feito mentalmente seja mais eficiente que o murmurado. No entanto, a mesma escritura nos aconselha a mudarmos de técnica quando percebermos que estamos perdendo a concentração ou quando estamos nos distraíndo, passando da repetição mental para a verbalização em voz alta ou vice-versa. É possível também associar o mantra com um yantra, um símbolo. Por exemplo, ao gayatri mantra corresponde o yantra do mesmo nome, que pode ser visualizado mantendo-se os olhos fechados ou focalizado com eles abertos durante a meditação.

4) Quais são os efeitos dos mantras?
Os mantras têm a capacidade de servir como foco para que a mente se concentre. Ela tem a sua própria agenda e dificilmente pode ser controlada. Se você percebe esta dificuldade na sua meditação, isso significa que sua mente é totalmente normal. Respire aliviado, pois isso acontece com todo o mundo. Seu trabalho durante o mantra, consiste justamente em trazer incessantemente a mente de volta para o som do mantra e refletir sobre seu significado. Isso traz como conseqüência o aquietamento da mente. Essa paz mental não é um fim em si mesmo, mas um meio para conseguir o discernimento, para preparar-se para a libertação, moksha. Muito embora os mantras possam ser usados para relaxar, combater a ansiedade ou o estresse, esse fim não deve ser esquecido.

5) Como funcionam?
Conhecer o significado do seu mantra, se você tem um, é fundamental. Tem pessoas que afirmam que os mantras não tem significado, ou que saber o que o mantra quer dizer não é importante, para afastar a desconfiança dos cristãos, ou para apresentar a prática da meditação sobre eles como algo 'científico'. Se o mantra foi especialmente escolhido para você, como é que ele não tem significado? Como posso confiar na eficiência desse mantra ou nas boas intenções de tais professores?
O Rudrayamala, um texto antigo de Yoga, diz: 'Os mantras feitos sem a correspondente ideação são apenas um par de letras mecanicamente pronunciadas. Não produzirão nenhum fruto, mesmo se repetidas um bilhão de vezes.' Mantras sem significado não funcionam. Todo mantra sânscrito significa alguma coisa ou aponta para algum aspecto da realidade, adequada como tema de reflexão para cada praticante.

6) Por que cantá-los em sânscrito?
Na tradição hindu, os mantras são considerados Shruti, revelação. Isso significa que esses sons não foram criados por um autor humano, mas percebidos em estado de meditação pelos sábios da antigüidade, chamados rishis. Esses sons descrevem as diferentes revelações que estes sábios tiveram, e servem como indicadores para orientar os humanos em direção ao autoconhecimento. Por exemplo, os mahavakyas, as grandes afirmações da tradição dizem: aham Brahma'smi, 'eu sou a Consciência do universo', tat tvam asi, 'tu és Isso (o Ser)', etc.
A língua sânscrita é considerada uma língua revelada, portanto sagrada, assim como o aramaico, o hebraico ou o latim o são para a religião judaico-cristã. Como língua, o sânscrito tem a virtude de conseguir comunicar nuanças de significados muito sutis, e sua vibração sonora produz efeitos não somente na mente mas também, por resonância, nos corpos energético e material.

Texto retirado do site www.yoga.pro.br e  publicado originalmente na revista Prana Yoga Journal. Visite o website da revista clicando aqui: www.eyoga.com.br.
Pedro Kupfer é professor de Yoga e Vedanta e edita o site www.yoga.pro.br

O RETIRO DE FIM DE ANO DE 2010 EM KARUNA

Aqui têm as fotos do retiro para que possam lembrar com carinho e alegria os momentos tão especiais que vivemos juntos. Agradeço a todos os que tornaram este retiro possível e que acabaram por torna-lo tão especial. Que possamos continua a estar juntos nesta senda do Yoga! Como diz o Swami Dayananda Saraswati  - "WE ARE ALL IN THE PROCESS" :)




















 
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