Reflexões

Mudar porquê?


Todos nós, numa ou em várias alturas da vida chegamos à conclusão de que há algo que não está bem. Os sentimentos de insatisfação, frustração e até tristeza são o alerta e fazem-nos parar para pensar e reflectir. Questionamo-nos sobre a causa desses sentimentos desconfortáveis, e muitas vezes chegamos à conclusão que a causa é exterior. Já não me sinto bem nesta casa, já estou farto deste emprego, o dinheiro que ganho é pouco, a relação com a minha mulher é auto-destrutiva, sinto-me cansado e ansioso, quero mudar de vida, o Inverno deprime-me, etc… A lista poderia continuar….
Em todos estes exemplos o elemento comum é o indivíduo, por isso, o problema não está na casa, nem no emprego nem na mulher, o problema está na pessoa, na relação que ela estabelece com o mundo. O problema está na expectativa que o indivíduo impõe, exige às pessoas, objectos e situações.
Se tenho o desejo de comer um pouco de chocolate, surge a expectativa de obter algum prazer sensorial da experiência comer chocolate. Sei que vou apreciar essa experiência, imponho e exijo ao chocolate que me satisfaça. E será que ele satisfaz mesmo? Será que o prazer está no chocolate? No primeiro pedaço a satisfação é enorme e aumenta no segundo e terceiros pedaços. Ao quinto talvez comece a hesitar e sem dúvida que fico enjoado no final da tablete de 250gr. O chocolate satisfez muito, depois satisfez pouco e no final enjoou-me. O mesmo chocolate que adorei e muito quis para mim, agora é simplesmente evitado. Onde está o problema afinal? Será em mim? Ou na relação que tenho com o chocolate? No chocolate definitivamente não está, em mim sim, agora tenho um problema, estou enjoado! O problema está na relação que estabeleço com o chocolate e na exigência que é imposta a esta relação eu/chocolate. Chocolate é o exemplo, poderia ser a casa, o carro, a esposa ou o emprego…
O desconforto que é sentido é directamente proporcional à grandeza da exigência frustrada que foi imposta na relação.
Quanto mais eu quero algo, mais sofrerei, mais frustrado ficarei se não obtiver esse algo. Se eu quiser mesmo esse algo, uma coisa é certa, é muito mais fácil obtê-lo com calma e discernimento. Se estou farto do meu patrão pois ele é um imbecil e por isso quero mudar de emprego, a calma irá dar-me mais do que o nervosismo, irá dar-me a estabilidade suficiente para escolher um plano de acção que resolva a situação e irá dar-me a capacidade de descobrir a melhor altura para concretizar esse plano.
Se abdico da exigência, fico livre, liberto-me da minha exigência, e isto é algo simplesmente maravilhoso e transformador. Neste processo reconheço-me como alguém capaz de aceitar as coisas como são e reconheço todo o potencial que tenho para abandonar a necessidade de controlo. A necessidade de controlo surge na mente, ela tem uma causa, talvez seja o medo da perda que origina um sentimento de insegurança e uma necessidade extrema de afirmação, talvez seja raiva oprimida, talvez seja algo inconsciente. Se assim é, agora sei que existe algo que desconheço que precisa da minha atenção. Reconheço que há um factor desconhecido que condiciona o meu pensamento, as minhas emoções e por isso o meu comportamento.
Não há nada de errado em querer mudar. Se analisarmos com objectividade todo o percurso das nossas vidas, vemos que ele foi sempre pautado pela mudança. Viver é assistir e essa imutável mudança, assistir a esta infinita dança cósmica de galáxias, estrelas, planetas e seres vivos. Podemos mudar aquilo que achamos que não está bem, mas acima de tudo aquilo que não está bem em nós. Como diz Gandhi: “ Sê tu próprio a mudança que queres ver no mundo”. Sabemos que o problema esta na relação que temos com o mundo, então também sabemos que o problema esta na relação que temos com o nosso mundo interior, na relação eu/eu. Aqui é que a verdadeira mudança acontece, é aqui que o verdadeiro potencial da mudança nasce. A mudança de atitude perante nós próprios é expandida para o exterior, para pessoas, factos, objectos e situações. Se me liberto das exigências que tenho para comigo, aceito-me como um ser humano não exigente. Dou aos desejos e ambições o lugar relativo que eles merecem, eles passam a ser motivadores e não limitadores. Um desejo motiva-me no sentido da acção para o realizar, por isso se quero mudar de emprego, que isso seja uma motivação para procurar algo melhor, algo que me convém mais, que vai mais ao encontro das minhas ambições. Se pelo contrário, esse desejo de mudança gera demasiada insatisfação, então sentir-me-ei condicionado, limitado por esse mesmo sentimento que se tornará inoportuno, desconfortável e contraproducente.
A mudança de atitude pressupõe uma mudança de valores. Se valorizo a tranquilidade e a harmonia mental e social, então a minha atitude será naturalmente a da procura da tranquilidade e harmonia. Se o que valorizo é o meu bem-estar então a minha atitude conduzir-me-á a esse bem-estar. Se o que valorizo é a ausência de violência, naturalmente a grande parte das minhas acções serão geradoras de paz. Se valorizo o companheirismo e a amizade, serei um bom companheiro e amigo. Se já não valorizo a necessidade de controlar o mundo, a atitude será a de aceitação, Kshanti. Tudo aquilo a que dou valor torna-se importante para mim. Quando valorizo os meus valores eles tornam-se importantes, transformam-se em atitudes congruentes com as minhas ambições e enriquecem-me como pessoa, tornando-me num ser humano mais maduro.
Das pequenas mudanças e das pequenas coisas surgem os grandes ganhos, a mudança de um grau numa trajectória com milhares de quilómetros é muito significativa, é uma mudança de milhares de quilómetros.

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Yoga para sempre

A situação social da sociedade está empobrecida e a empobrecer, no que diz respeito a valores éticos de conduta comportamental. Estes valores são extremamente importantes para o bom funcionamento de qualquer tecido social, desde o mais pequeno, por exemplo uma família, ao maior, como por exemplo um país ou mesmo o planeta. Estas regras de conduta sustentam as relações interpessoais tornando-as mais produtivas, sinceras e harmoniosas, originando bem-estar, entendimento e paz.

O Sanatana Dharma, mais conhecido como Hinduísmo aqui no ocidente é o conjunto de todas as entidades religiosas, espirituais e sociais da Índia. Estas abarcam um conhecimento que é eterno e encerram em si mesmo um conjunto de valores que sustentam, ou pelo menos deveriam sustentar o bom funcionamento das sociedades.
Dharma quer dizer literalmente aquilo que sustenta algo e que por isso atribui qualidades intrínsecas ao que é sustentado. Um livro só será um livro se tiver capa, lombada e se contiver palavras e estas tiverem conteúdo lógico. Podemos dizer então que a sua forma, as palavras e o contudo lógico são o que sustentam o livro, caso contrário teremos um caderno, ou outro objecto qualquer. Dharma pode ser colectivo ou individual e deverá ser aprendido para poder ser usado a favor do bem-estar de todos. O que sustenta a qualidade de ser mãe é completamente diferente daquilo que sustenta a qualidade de ser filho, o Dharma da mãe é então diferente do Dharma do filho.

Quando falamos de Yoga falamos de Dharma, pois Yoga e Dharma andam de mão dada, não existindo Yoga sem Dharma.

Muitas das vezes o yoga surge descontextualizado e desmembrado assim que sai da India. Muitos professores por falta de capacidade ou por pressões sociais vendem um pacote e chamam-lhe Yoga. Yoga não é um desporto muito menos um negócio! Yoga é cultura e educação!

O Dharma de um professor de Yoga passa por valorizar e ensinar o Yoga respeitando a tradição. Sem tradição o conhecimento não flui de mestre a discípulo e sem tradição não há garantia da eficácia daquilo que está a ser ensinado. A tradição protege o conhecimento, protege o mestre e os discípulos e é um corpo vivo, intemporal e maravilhoso, acarinhando todos aqueles a que a ela pertencem.

Lamento que o yoga surja descontextualizado e desajustado e que sofra as influências de uma sociedade de consumo que produz em grande número cidadãos doentes e sem paz.

A missão do professor de yoga é ensinar e relembrar, antes de mais o Dharma e só depois o restante. Ainda bem que o Yoga está a ser difundido e conhecido pois é uma pérola da humanidade, um recurso educativo de valor incalculável. É com profunda tristeza e alguma revolta que reparo que está a ser mal ensinado, seja por professores ignorantes e incompetentes ou por anjos caídos. A senda do yoga é árdua e requer um compromisso vitalício por parte do yogi, yoga é para toda a vida e não só para a sala de aula.

O yoga propõe um caminho com um fim bem claro, que é a mudança da ideia de que somos limitados e infelizes, para a compreensão de que somos por natureza felizes e completos. A esta compreensão chamamos Moksha e para que tal aconteça é necessário o estudo do autoconhecimento.

O corpo é o meio físico onde o Ser ou Atma é reflectido, e quando o Yogi sério pratica tem isso presente. Daqui surge a não identificação com toda e qualquer experiência, inclusive a experiência do corpo, da energia das emoções e do pensamento. O yogi percebe-se a si mesmo como um ser livre de atributos, como pura consciência – Sakshi Purusha.

O yoga terá com certeza o melhor dos futuros pois está de acordo com o Dharma. Existirão sempre homens e mulheres sábias e santas que perpetuarão a tradição do yoga, proporcionando a toda a humanidade a preservação de tão valioso e raro conhecimento. É bom que os yogis desta era possam usar os meios de informação para permitir a saudável disseminação deste corpo de conhecimento, desta ciência de vida e liberdade! Desejo que todas as pessoas nesta ou noutras vidas possam beneficiar com o yoga e que possam perceber a verdade última, que possam verdadeiramente ser livres! Para que tal possa acontecer é necessário que os todos os professores ajustem e adaptem o ensino deste Darshana às sociedades ocidentais, descodificando-o e simplificando-o ao máximo. Com simplicidade e sem perder a essência do ensinamento manter-se-á este Sampradaya, esta tradição de ensino.
Considero-me com a sorte de ter encontrado excelentes professores, tais como Miguel Homem, Pedro Kupfer, Glória Arieira e Swami Dayananda Sarasvati, que mantém a tradição viva e saudável, muito obrigado a todos eles.

Em suma resta referir que o yoga não é um desporto, um negócio ou uma actividade de lazer e que não deverá ser usado como tal. Respeitando a tradição respeitamos o Yoga, aprendendo a tradição aprendemos o yoga, respeitando o yoga respeitamos a tradição, aprendendo o yoga aprendemos a tradição.
Este artigo foi escrito por Paulo Vieira
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Yoga para todos

A educação da grande maior parte dos jovens está a ser baseada na competição e na ideia errada de que têm que ser os melhores. Tanto no seio familiar como nos meios escolares se observa a falha grave e profunda na educação, e a prova disso é o estado social de todo o nosso planeta!

As sociedades actuais são extremamente competitivas. A competição gera pressão e medo, a pressão de ser o primeiro ou o melhor e o medo de não o conseguir ser.
Educar um ser humano é um processo delicado e de imensa responsabilidade. A educação poderá ser benéfica e produzir seres humanos bons, justos e felizes, ou poderá ser desastrosa e produzir seres humanos errantes e propagadores de infelicidade. O que queremos nós afinal? Um planeta de paz e justiça, ou um planeta de miséria e infelicidade?

Temos que analisar profundamente esta questão no nosso interior, pois ela está na base de todas as nossas acções. Diz a tradição que a melhor forma de educar é dar o exemplo. Se quero o bem e observo em mim esse desejo ardente, então as minhas acções deverão reflectir esse desejo. O pensamento a palavra e a acção deverão ser como uma linha recta e firme, deveriam ser coerentes entre si. Facto é que a maior parte seres humanos, jovens, adultos e idosos vivem divididos interiormente, logo vivem infelizes. Esta divisão vem da falta de coerência entre o que pensam, o que dizem e o que fazem, sendo perfeitamente compreensível e aceitável o comportamento estranho, violento e triste de tantos seres humanos por esse mundo fora. Os seres humanos precisam de orientação e de educação justa e verdadeira para serem felizes e completos, e se o forem as suas acções serão nobres, inspiradoras e repletas de amor.
Os sistemas educativos e religiosos não estão a ter eficácia no que diz respeito à educação do ser humano e a levar o homem até á realização do divino. O homem carece de sistemas educativos eficazes, ou pelo menos carece da sua utilização. Estas carências provocam o aparecimento de inúmeros sintomas. O aumento da violência e o aumento do medo e da ansiedade são alguns desses sintomas. Por outro lado, mesmo aqueles que se dizem bem sucedidos nesta sociedade sentem uma profunda insatisfação combinada com um desejo de obter mais bens materiais. Vão satisfazendo inúmeros desejos e quantos mais satisfazem mais querem satisfazer, ignorando completamente que este ciclo vicioso não trás felicidade.

O ser humano procura o prazer e a segurança e extrai daqui muitas vezes o sentido de viver. Ora o prazer e a segurança são passageiros e não duram para sempre, e sempre que a sensação de segurança desvanece, o medo, a ansiedade e a infelicidade reaparecem. Sempre que o prazer acaba começa o apego ao prazer, logo mais infelicidade.
Os sábios do período védico sabiam muito bem que a alternância entre o prazer e a dor (sukha e dukha), são um ciclo e deixaram-nos um precioso conhecimento para que o homem aprendesse uma forma de fugir a este labirinto cíclico.
Na sociedade védica o ser humano tinha quatro objectivos chamados Purushartas. São eles Artha (segurança), Kama (satisfação de desejos), Dharma( os códigos de conduta ética e comportamental individual -Svadharma) e Moksha (liberdade da ideia de que somos limitados e infelizes).

Qualquer ser humano deveria cumprir estes quatro objectivos de vida para que pudesse sentir-se útil à sociedade, para que pudesse sentir-se feliz e completo.
Na sociedade actual Dharma e Moksha não estão a ser correctamente ensinados, logo a que grande maior parte dos seres humanos sofre esta carência!

O yoga vem colmatar esta falha gravíssima da nossa sociedade dita desenvolvida! Propõe uma mudança benéfica e profunda de valores, restaurando e implementando de novo o equilíbrio, a justiça e a paz, primeiro no coração dos praticantes e mais tarde no seio das famílias e sociedades.
Vislumbro o yoga como um método educativo/cultural, livre de fronteiras e preconceitos, com a capacidade de tocar profundamente os corações dos seres humanos.

Aquele que foi verdadeiramente tocado pelo yoga e o dharma, percebe claramente a profundidade destas palavras, e sentir-se-á certamente comovido pela ideia do yoga poder ser possível e acessível para todos os seres humanos.
O yoga está francamente difundido pelo ocidente e está a sofrer os efeitos duma sociedade globalizada que quer tudo para ontem. O yoga não é um produto nem um negócio e muito menos é para ontem, mas está a ser muitas vezes usado como tal.
Moksha ou iluminação, como é mais comummente conhecida, é um processo e como tal demora o seu tempo. A paciência, o estudo, a confiança na tradição e no método de ensino, a humildade e todas as qualidades que enaltecem o homem são requisitos imprescindíveis para um mumukshu (aquele que tem o desejo de moksha) fazendo deste um adhikarin, aquele que reúne todas as condições para realizar o conhecimento de brahma. Este é o futuro do yoga e da tradição intrínseca a este darshana, continuar a existir, a evoluir e a expandir-se mantendo e preservando todos os valores que lhe são adjacentes e essênciais.

Espero que o yoga resista às influências desta sociedade consumista e que possa continuar a evoluir e a ser preservado como até então tem sido. Para que esta incrível tradição se mantenha, é necessária a participação activa de todos aqueles que a ela pertencem, mestres, professores e alunos, no sentido de reunirem e criarem as condições ideais para que o conhecimento continue a ser passado de geração em geração. Os professores de yoga têm a inevitável e importante missão de preservar e melhorar a tradição. O professor assemelha-se a uma escada que o aluno usa para subir, para evoluir, assim é em muitas áreas. Na área da espiritualidade o professor também sobe pela escada que é, pois também ele beneficia com o bem das suas acções e além disso ainda beneficia a tradição. É um processo maravilhoso, incrível e purificador, que beneficia todos aqueles que nele estão inseridos.
São precisos três factores em perfeita harmonia para que o conhecimento aconteça. É necessária a existência de um professor disposto a ensinar, a existência de um aluno disposto a aprender com esse professor e é necessária a existência de um conhecimento para ser transmitido. Se hoje sou aluno reverencio quem me ensina ao aprender humildemente. Se hoje sou professor reverencio a tradição ao respeitá-la.

Que o yoga possa entrar no coração de todos os seres humanos e que todos os seres possam ser felizes.
Este artigo foi escrito por Paulo Vieira
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Ásanas e vida real

No ocidente o Yoga é geralmente conhecido como sendo um conjunto de posturas que se fazem com o corpo. O Yoga é muito mais do que um conjunto de exercícios físicos ou de técnicas de respiração e relaxamento, sendo completamente redutor defini-lo dessa forma.

O Yoga é um corpo de conhecimento muito antigo, extenso e profundo com a capacidade extraordinária de revelar a natureza humana e do cosmos, proporcionando ao Yogi a oportunidade de se livrar de todos os condicionamentos que o tornam aparentemente um ser limitado e incompleto.
Sendo extremamente completa, esta arte milenar propõe um conjunto de “disciplinas” possibilitando ao praticante a aprendizagem de vários conhecimentos que se interligam de forma harmoniosa.

Uma destas “disciplinas” ou partes tem como objecto de estudo e prática o corpo humano. Através de muitos e diferentes ásanas (posturas psico-físicas) o praticante reconstrói o seu corpo, tornando-o mais forte, mais flexível e mais saudável. Porém os ásanas não são simplesmente exercícios físicos e energéticos, os ásanas também proporcionam estados emotivos e desencadeiam fluxos de pensamentos, fluxos estes que estão intimamente ligados especificamente a cada ásana . Os ásanas poderão originar extroversão, introversão, frustração, contentamento, etc., sendo que cada praticante vivencia de forma diferente os diferentes e inúmeros ásanas.

Segundo Patanjali, sábio e autor dos Yoga Sutras, ásana é o terceiro anga (parte) do Ashtanga Yoga de Patanjali (Yoga de oito partes ou Raja Yoga – Yoga Real ). Segundo este famoso sábio, ásana vem depois de yama e niyama, sendo estes dois respectivamente códigos de conduta de comportamento social externos e códigos de conduta comportamentais internos. Yama e niyama são as fundações pelas quais o Yogi cresce e se desenvolve, e sem estas fundações a pratica de ásanas não passa de contorcionismo e de exibicionismo como se vê no circo. Os yamas e niyamas não podem de modo algum deixar de existir para um praticante sério e isto que fique bem claro.

Os yamas são cinco – ahimsa(não violência), ashteya (não roubar), satya (ser verdadeiro), bramhacharya(contenção sexual), aparigraha (não possessividade); os niyamas são cinco – saucha(limpeza, pureza), santocha (contentamento), tapas(esforço sobre si próprio), svadhyaya (dedicação ao estudo do auto-conhecimento), isvarapranidhana (entrega ao absoluto no que diz respeito ao resultado das acções).

O yogi primeiro deverá firmar-se no estudo e no cumprimento dos yamas e niyamas e só depois deverá estudar e praticar ásanas. Uma casa começa sempre a ser construída pelas fundações, nunca pelo telhado! Se as fundações forem fortes e seguras as paredes da casa terão a possibilidade de serem mais sólidas e resistentes, podendo então sustentar um telhado. Assim é com o praticante, se os valores éticos de conduta forem fortes a sua prática de ásana será firme e segura e o praticate chegará aos mais altos e nobres resultados.

O praticante que conseguir aplicar os yamas e niyamas na sua prática de ásanas (alguns são aplicáveis - por exemplo ahimsa, isvara pranidhana) terá uma atitude perfeita, e claro está que esta mesma atitude deverá ser estendida à vida de uma forma geral e na relação com os demais seres vivos. De que serve o conhecimento se não é aplicável?

Enquanto treina ásanas, o yogi está completamente alerta e atento a todas as suas flutuações mentais, está completamente ciente da sua condição energética e completamente consciente das suas limitações físicas. Cultiva um estado contemplativo e de aceitação com todas as experiências que surgirem, percebendo-se como parte integrante da natureza.

A “vida em cima do tapete” (para a prática de ásana usa-se geralmente um tapete antiderrapante e isolante) é como um tubo de ensaio ou um processo cientifico, onde o yogi se experiencia e se aperfeiçoa, acumulando conhecimento sobre si mesmo, para que depois o possa por em prática na “vida fora do tapete”, tornando-se um ser mais feliz e justo. Aquilo que vai sendo testemunhado internamente durante a prática de ásanas é naturalmente distinto daquele que testemunha. O que é testemunhado tem natureza impermanente e aquele que testemunha permanece constante. O corpo está naturalmente diferente de dia para dia, os pensamentos estão constantemente a mudar e a energia que habita o corpo oscila equilibradamente, porém a consciência de todas estas mudanças está sempre presente, nunca desaparece. O yogi aprende a fazer a distinção entre o real e o ilusório, entre o seu Ser e o seu complexo corpo/mente/ energia, tirando deste processo uma satisfação e paz profundas.

O yogi relaciona-se consigo mesmo de uma forma produtiva e saudável, aprendendo lentamente e progressivamente sobre as diversas camadas que o constituem, da mais densa à mais subtil, desde o corpo propriamente dito até ao seu subconsciente, desvendando por fim a sua própria natureza que é a essência de todas as coisas e de tudo o que existe.

A prática de ásana é uma excelente forma de aprender a aceitar condicionamentos, uma prática abordagem filosófica, e também uma forma de aprender a identificar e assimilar o conhecimento dos yamas e niyamas . É também uma excelente forma de abordar o princípio do dia, acordando e preparando o corpo e a mente para a maratona de momentos que se seguem na vida quotidiana. Ao fim da tarde a prática é mais energizante e remove as tensões que eventualmente se foram acumulando durante o dia.
Recomenda-se a prática consciente e inteligente de ásanas, pois com saúde, consciência e inteligência a vida prolonga-se e torna-se mais feliz e completa, e este é um facto que não pode ser negado sendo obviamente um bem para a humanidade.

Este artigo foi escrito por Paulo Vieira