sábado, 2 de junho de 2012

Conversão religiosa é uma forma de violência!!!

No decorrer da leitura de um artigo de felicitação dirigido ao Pujya Swami Dayananda Saraswati  presente na Newsletter do Arsha Vidya e referente ao mês de Maio, reparo num parágrafo que me deixou indignado. O artigo é referente à atribuição do titulo de Adi Shankaracarya a Swami Dayananda. (Podem ler mais aqui)

A certa altura da leitura encontro o seguinte:

 "Durante a visita do Pápa à Índia, o Pápa disse que nos primeiros 1000 anos os Europeus foram convertidos ao Cristianismo. Nos segundos 1000 anos Americanos e Africanos foram convertidos. Nos próximos 1000 anos os Asiáticos deveriam ser convertidos ao Cristianismo. Pujya Swamiji objectou sobre isto ao Pápa e deu um pensamento profundo numa única frase "Conversão é violência".  (Excerto retirado da revista e traduzido para o Português).


É preciso que se divulgue o seguinte!

Uma das formas de actuação deste movimento religioso agressivo na Índia é pagar às famílias pobres e necessitadas a instrução e educação dos seus filhos em escolas Católicas. Ajudam com a condição de que se convertam, com a condição de que deixem para trás toda a tradição e cultura em que nasceram. Isto é lamentável e direi mesmo condenável! Vejamos juntos porquê!


A família assenta em alguns pilares fundamentais que lhe conferem estabilidade. União é um pilar. Amor é um deles. Amizade é outro. Confiança é mais um. Tradição familiar outro mais. Valores éticos mais um. Religião é outro. E por aí vai!

Quanto ao Amor, à amizade e à confiança não existe muito para dizer, é do senso comum a importância que eles desempenham na manutenção, saúde e vitalidade de uma família!

Quanto aos valores éticos, podemos fazer a seguinte pergunta - Será ético converter famílias Hindus, ou Muçulmanas ao Catolicismo mesmo que isso signifique o aniquilamento de toda uma tradição?

Digo aniquilamento de toda uma tradição, pois para aquelas crianças isso será o começo do estudo de uma nova cultura. Ou seja, uma cultura imposta. É uma medida de puro marketing agressivo da Religião Católica, que se aproveita da necessidade das famílias pobres para vender a sua religião. Nesse processo de compra, as famílias interrompem a tradição, quebrando uma ligação de milénios com os seus antepassados. E a partir desse momento, a partir do momento em que esse elo seja quebrado, será muito difícil voltar a unir o passado com o presente, será muito difícil manter a singularidade e a beleza típicas de uma tradição.  Todos os rituais, toda a história religiosa, todo o conhecimento religioso será interrompido com essa medida de marketing, que apenas visa a expansão.

A Religião Católica não se preocupa com os valores e tradições de nenhuma cultura, aliás preocupa-se sim! Preocupa-se em destruir esse valores, preocupa-se em interromper o maravilhoso fluxo de conhecimento passado de geração em geração. Preocupa-se em terminar com a diversidade cultural e religiosa. Isto é uma forma de violência muito grave, pois não é apenas dirigida a uma pessoa em particular, mas é dirigida a todo um passado, é violência que atinge os ancestrais!

A conversão religiosa, se acontecer, deve ser sempre um acção voluntária. Deve ser pensada e feita apenas pela pessoa que sente mais afinidade por outro sistema e então decide converter-se.

Mais direi, compactuar com essa forma de violência é apoiá-la! É também uma forma de violência, violência passiva!

Se um dos objectivos da religião levar as pessoas à paz, a Religião Católica faz precisamente o contrário! É agressiva na sua abordagem, é ditatorial. Não respeita as diferenças.

Se outro dos objectivos da religião é "levar as pessoas até Deus", vejam bem a ineficácia da Religião Católica. Simplesmente não tem capacidade de levar a cabo essa tarefa. Não conheço ninguém praticante Católico que tenha "descoberto Deus". Nem mesmo padres. Nem mesmo Bispos. Direi mesmo, nem o Pápa.

Agir em prol do bem é desapoiar o mal, tirar o sustento daquilo que alimenta o mal. A conversão religiosa é sem dúvida um mal, um mal que irá acabar.

Paulo Vieira
 

sexta-feira, 1 de junho de 2012



भगवान्    O significado da palavra Bhagavān
  
Bhagavān é um dos nomes dado à manifestação. É uma palavra Sânscrita que representa o cosmos, o Absoluto.
A palavra Bhagavān aparece na famosa obra literária Bhagavadgītā, que é um capítulo do extenso Mahābhārata, o grande épico Indiano escrito por Veda Vyāsa, um grande ṛṣiḥ, sábio. O Mahābhārata insere-se num tipo de literatura chamada itihāsa, que por sua vez se insere dentro da smṛti. Smṛti é literatura de autoria humana que reflecte sobre a Śruti, sobre os Vedas. Itihāsa significa história, narração, quer dizer literalmente “assim aconteceu”.
A definição de Bhagavān é-nos dada pelo Swami Dayanda Sarasvati – “bhagaḥ asya asti iti bhagavān”, aquele que tem bhaga é chamado de Bhagavān.

O que é bhaga?

No Viṣṇu-purāṇa encontramos a definição – “aiśvaryasya samagrasya vīrasya yaśasaḥ śriyaḥ jñānavairāgyayoścaiva ṣaṇṇāṁ bhaga itīraṇā”,(Viṣṇu-purāṇa; 6.5.74).

Total e absoluta suserania (soberania), aiśvarya , poder, vīra, abundância, śrī, desapego, vairāgya, fama, yaśas e conhecimento, jñāna  são conhecidas como bhaga. 
Bhagavān é quem possui todas estas qualidades ou virtudes na sua totalidade.
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 Bhagavān possui todo o conhecimento, toda a sabedoria, sarva jñāna. Para ter todo o conhecimento, uma condição importante e imprescindivel tem que existir – ser livre de toda a ignorância. Assim sendo, o simples facto de possuir uma mente é um indicador óbvio de ignorância. A mente tem como função o conhecimento e o reconhecimento de todo o meio envolvente externo bem como interno. Seres vivos, pessoas, factos e situações fazem parte do meio dito externo. Os pensamentos, as memórias, sentimentos e emoções, e sensações fazem parte do meio interno. Relativamente a ambos os meios, externo e interno, sou ignorante, reconhecendo que há muito por conhecer. Para quem tem uma mente, ser todo conhecedor, sarva jñāna, é um feito impossível de alcançar. Reconheco que o saber total é o somatório de todas as coisas que conheço acrescido de todas as coisas de que sou ignorante.

- Bhagavān é ilimitadamente poderoso, ananta vīrya. Todos este cosmos, toda esta manifestação é prova de poder, śakti. O poder que deu origem à materia, o poder que existe para sustentar a matéria e o poder necessário à resolução. Bhagavān tem este poder levado ao infinito, ele mesmo é o infinito, ananta.

- Bhagavān é totalmente livre de gostos e aversões, totalmente desapegado, tem em absoluto a qualidade vairāgya. Para que se possa ser ananta vīrya, naturalmente se terá que ter vairāgya. Para que novos seres vivos nasçam, outros têm que morrer. O universo manifestado muda constantemente e isso é uma prova de total vairāgya.

- Bhagavān é aquele que é conhecido por todos, aquele que tem mais fama, yaśas. Todos reconhecem a infinita vastidão e magnitude suprema de Bhagavān. Assim ele é sem dúvida o mais famoso. Mesmo a fama do homem mais famoso se insere em Bhagavān, uma vez que Bhagavān é a causa tanto do homem bem como da sua temporária fama. A fama de Bhagavān, pelo contrário é eterna, nitya yaśas, uma vez que Bhagavān também é eterno.

- Bhagavān é fonte inesgotável de todos os recursos, de toda a abundância, de toda a riqueza, śrī. O homem durante o seu período de vida acumula bens materiais que ficam quando ele parte, quando morre. Na realidade toda abundância, śrī é Bhagavān. A água dos oceanos, o ar que respiramos, todos os seres vivos, o Sol, toda essa abundância de recursos é Bhagavān.

 - Bhagavān é também aquele a quem nenhuma lei se impõe, ele é o somatório de todas as leis, a causa de todas as leis, ele “é” também na forma de leis. Bhagavān é o único senhor absoluto e detém a qualidade chamada aiśvarya, total soberania. Podemos dizer que é o grande Imperador. O ser humano que é dotado de grande inteligência, capacidade e meios para a usar, apenas pode usar as leis presentes na manifestação. A engenharia é um exemplo desse uso,  a biologia é outro exemplo, a química mais um exemplo. Em todos estes exemplos, nunca o homem foi o criador de uma sequer lei, descobriu-as mas não as criou. Usa-as mas não as modifica. Equaciona-as mas não as transforma. Aquele que tem o controlo absoluto é Bhagavān.

Paulo Vieira, Junho 2012

sábado, 26 de maio de 2012


Pedro Kupfer 

 

Parivritta Parshvakonásana: a torção estendida em pé 

 

 

Tradução do nome desta postura:

parivritta = torcido, parshva = lado, kona = ângulo; "postura do ângulo, em rotação lateral"




1. Esta postura é uma das mais importantes torções em pé, fundamental para fortalecer a base, as pernas e a parte inferior do tronco.
2. Como no uthitta parshvakonásana sem torcer, o pé de trás fica num ângulo de 90 a 65 graus em relação ao pé da frente.
3. Apoie firmemente a parte externa do pé de trás.
4. Deixe os arcos de ambos os pés elevados, especialmente o do pé de trás.
5. Se não conseguir, eleve o calcanhar e deixe os dedos do pé de trás voltados para a frente.
6. Em sentido longitudinal, deve manter-se entre os pés um espaço equivalente à largura do seu quadril.
7. Uma vez que você está firme nessa base, torça o tronco, a partir da ponta inferior da espinha dorsal.
8. Para fazer a torção, coloque a parte externa do braço na parte externa do joelho (se o joelho direito estiver à frente, a torção será feita com o braço esquerdo, e vice-versa).
9. Se isso não for possível, use um bloco de madeira para apoiar a mão, do lado interno do pé da frente.
10. Evite hiperflexionar o joelho da frente. A tibia fica perpendicular ao chão e o joelho sobre o tornozelo.
11. Perceba uma linha reta e contínua, desde o pé de trás até o braço estendido. O tronco fica nessa mesma linha.
12. Perceba a rotação externa da crista ilíaca de cima.
13. Mantenha o cóccix apontando para o calcanhar do pé de trás. Os ombros ficam girados em direção às escápulas. Ao torcer, evite contrair o pescoço, e mantenha espaço entre ele e os ombros.
14. Tome consciência da circulação da energia vital, entre a base do tronco e o coração, especialmente no plexo solar, ativando o uddiyana bandha.
15. Suavize o olhar e a expressão do rosto. Esforce-se, mas não exagere.
Atenção:
Estas dicas não substituem um professor de Yoga. São disponibilizadas apenas para que o praticante possa aprimorar sua técnica e sua prática pessoal. No início, a prática sob a supervisão cuidadosa de um instrutor preparado e competente é essencial para o sucesso na prática, bem como para evitar lesões. O autor não se responsabiliza pelo mal uso que possa ser feito destes textos. Obrigado pela compreensão.
Namastê e boas práticas!

Artigo escrito por Pedro Kupfer publicado originalmente em www.yoga.pro.br em 17 de Setembro de 2006. Este artigo foi aqui publicado com a autorização do autor 

segunda-feira, 21 de maio de 2012


Mantendo a visão,


A palavra Yoga faz lembrar uma série de posturas corporais, pelo menos é assim para a maior parte das pessoas. Para estas pessoas o Yoga é igualado a um tipo de exercícios físicos vindos do oriente, para os quais é necessário muita flexibilidade e um gosto um pouco exótico e diferente.
Para outras pessoas um pouco mais esclarecidas, Yoga é mais do que isso, é também um conjunto de técnicas respiratórias que têm o objetivo de aumentar a energia e a vitalidade.
Outras pessoas referem-se ao Yoga dizendo que é mesmo disso que estão a precisar, de relaxar, de descontrair, de não pensar em nada.

Hoje em dia existem muitas escolas e ginásios onde as pessoas encontram exatamente aquilo que foi descrito em cima. E para essas pessoas isso é perfeito. À segunda-feira têm dança de salão. À terça-feira têm cinema. À quarta-feira e sexta-feira têm Yoga. À quinta-feira têm aula de aeróbica e ao final de semana vão para fora.

Será o Yoga um atividade como a aeróbica ou o cinema?

Para muitas pessoas claro que sim. Para outras claro que não.
As que respondem que sim são as menos informadas relativamente ao Yoga. As que respondem que não são definitivamente as mais informadas.

Vamos às origens.

O Veda ou Vedas são as Sagradas Escrituras Indianas. São escrituras muito antigas com mais de 5000 anos. Esta literatura que também é chamada Srhuti, Shru é a raiz verbal do verbo ouvir. É assim chamada, shruti, pois não é de autoria humana, mas foi “vista” por Sábios ou Videntes, Rshis. Foi ouvida, foi revelada na forma de Hinos, Hinos Védicos chamados Mantras.
Inicialmente o Veda era apenas um. Vyasa, também conhecido por Veda Vyasa dividiu o Veda em quatro porções para que pudesse ser mais facilmente memorizado, dividindo assim o fardo pesado por quatro dos seus discípulos. Assim sendo os Vedas são quatro: Rg, Sama, Atharva, Yajur. O Yajurveda divide-se em duas parte ainda, Krsha Yajurveda e Shukla Yajurveda.

Estes Mantras são de dois tipos tendo em conta o seu objetivo. Podem ser prescritivos de ações propriamente ditas, mencionando os meios e os benefícios dessas ações, ou podem ser relativos ao ensino do conhecimento da natureza do Universo, relativos ao ensino do conhecimento da natureza humana.
A primeira porção pode ser chamada então de karma kanda, parte relativa às ações, ou purva bhága, a primeira parte. A segunda parte pode ser chama jñána kanda, parte relativa ao conhecimento, ou veda anta, a última parte.

A última parte é a que nos interessa para podermos continuar a exposição. Veda anta ou jnana kanda trata do ensino do conhecimento espiritual, ou seja ensina a real natureza do ser humano. A este ensino se chama Jñánayoga. Este ensino pressupõe uma certa preparação  e aptidão do individuo, pressupõe no mínimo que ele tenha o desejo de aprender este tópico, o  desejo de autoconhecimento.

Para que este autoconhecimento aconteça, alguém tem que assumir o papel de professor, alguém tem que ter a mestria para o fazer. A pessoa que representa esse papel na Tradição Védica é chamado Guru. Gu quer dizer escuridão ou trevas. Ru quer dizer aquele que ilumina, aquele que remove a escuridão. A escuridão representa metaforicamente a ignorância. A luz representa o conhecimento.

Pressupõe-se claro que o Guru saiba o caminho a percorrer, que saiba o conhecimento que irá ensinar e que então ensine, ilumine, que mostre o caminho.

O aluno porém é ignorante da sua natureza essencial, acha ser quem de facto não é. Este equivoco, esta ignorância e erro juntos, estão na base de uma busca incessante de auto aceitação, expressando-se por um constante precisar de “fazer algo” para me sentir bem, para me sentir completo, para me auto aceitar e sentir-me em paz comigo mesmo.
Surge a necessidade de conquistas materiais, emocionais, a necessidade de estatuto e poder, fama e glória, dinheiro, etc.
A pessoa que busca tudo isto pensa completar-se em cada objeto buscado, mas de facto, em cada objeto procurado a pessoa está inconscientemente a procurar-se, tendo como resultado final perder-se de si mesma.
É por causa da sensação de incompletude que procuro aumentar as posses, a fama, o estatuto, a família, etc. Irremediavelmente a pessoa chega à importante conclusão que por mais que conquiste, por mais adquira, por mais que adicione ao que já lhe pertence, isso não chega, não é suficiente para eliminar a auto insatisfação subsequente a cada conquista, a cada aquisição.
Nasce então a pergunta – porque é que tenho tudo mas ainda assim me sinto com pressão para ter mais, ter muito mais? E mesmo quando consigo ter mais, porque é que me sinto insatisfeito? Porque é que me sinto infeliz mesmo quando tenho tudo, mulher, filhos, carro, casa, emprego, amigos, cão e gato, inteligência?

Este porquê é muito importante e é com esta pergunta que nasce o buscador espiritual. É assim que nasce a necessidade de ter algumas respostas sobre a natureza desta insatisfação e infelicidade que parece ser permanente.

O Vedanta apresenta um caminho bem definido e eficaz para a resposta a esta pergunta.

Este caminho pode ser dividido em três partes complementares e interdependentes.
A primeira parte é Karma Yoga. A segunda parte é Upasana Yoga. A terceira parte que já referi é jñána Yoga.

Karma yoga pode ser definido como o conjunto de ações a ter para uma conduta social ética. Uma conduta benéfica para todos. Resumidamente é ter atitudes e ações de contribuição positiva para com a sociedade e o meio ambiente e os seres vivos que os compõem. O Karma yoga pretende purificar a mente do individuo, pois ao fazer ações dentro da ética a mente fica tranquila e calma, é uma consequência natural.

Upásana Yoga pode ser definido como o conjunto de técnicas que visam preparar o corpo e a mente para o estágio seguinte. Estas técnicas são a prática de ásanas, pránáyámas, meditação, recitação de mantras, etc. A maior parte das pessoas apenas conhece esta pequena porção e chama-lhe Yoga…

Jñana Yoga pode ser definido como a ultima parte deste longa busca espiritual. Consiste em três partes.
Ouvir o ensinamento, ouvir o Mestre, ouvir o Guru a expor o conhecimento do Ser, Shravanam. Ou seja é a exposição ao ensinamento das Upanishads, ao Vedánta.
A segunda parte e muito importante é mananam, a reflexão no ensinamento para que as dúvida sejam eliminadas.
Nididhyasanam é a última parte e é a contemplação do ensinamento correto e limpo de dúvidas.

Yoga é muito mais do que aquela hora passada em cima do tapete de prática, de facto é nas restantes horas fora do tapete que o yoga deve ser praticado. A conduta comportamental e a reflexão sobre a natureza de si mesmo devem ser constantes num Yogi, e claro a pratica do tapete também!


Paulo Vieira

domingo, 20 de maio de 2012


Uma mensagem a ser passada!


O Yoga é um corpo de conhecimento completo. Propõe ao Yogi uma meta, Mokṣa, que é a liberdade do aprisionamento que tem origem na ideia errada de que sou limitado e infeliz, ou seja o reconhecimento e a compreensão que sou completo e feliz por natureza.
Complexo é o processo que prepara e conduz o praticante a essa Liberdade. Desde a conduta ética ou Dharma, desde as práticas Yogikas, como prāṇāyāma, āsana, meditação, mudrās, etc., até ao jñānayoga ou Vedānta. Estes são complementares e inter-relacionam-se na perfeição.
O Yoga está aí para ser aproveitado e ainda bem que está na moda, pois hoje mais do que antes está a ser bem preciso.
Não esquecendo o objetivo último do Yoga, Moksha, lembro o prazer que existe em praticar, prazer que muitos praticantes antigos parecem ter esquecido. Parece-me que se fartaram de praticar, ou zangaram-se com a prática, ou então apenas já só se dedicam a algumas partes, negligenciando outras.
Muitos dizem que já praticaram “muito āsana”, que estão cheios de lesões, e que então se dedicam ao prāṇāyāma e a mantra jāpa ou meditação. Será que de facto alguma vez praticaram Yoga?
Certo é que se acomodaram. De facto, é muito mais fácil sentar para meditar do que fazer saudações ao sol e seguir em frente com a prática pessoal, a prática regular, direi mesmo diária que o praticante deverá ter.
 De facto sentar para a prazerosa meditação é muito mais apetecível, e claro, cansa muito menos. Chama-se a esta atitude “preguicite crónica”! Provavelmente é muito mais divertido ir surfar ou passear na montanha e claro também faz bem….
A prática de āsana é um exercício físico pois envolve o corpo, de forma objetiva se percebe que isto é um facto;
A prática de āsana é um exercício fisiológico pois nutre e massaja os diferentes órgãos internos e externos com as diferentes posturas. Isto faz da prática um exercício terapêutico, faz da pratica yoga terapia, fica aqui o link para pesquisarem : ah vejam até ao fim pois vale bem a pena!
A prática de āsana é um exercício prāṇico, pois o yogi deve ter noção das diferentes nadis ou meridianos e então observar e conduzir o prana com a ajuda dos bhandas e da respiração, para que o prana possa fluir sem bloqueios pelos mesmos meridianos ou nadis.
Com a prática de āsana o corpo fica preparado para o prāṇāyāma, o corpo fica desbloqueado para que o prana e a respiração possam fluir sem restrições. Com o prāṇāyāma a mente fica preparada para a meditação. Simplesmente uma sequencia harmoniosa…

Uma pergunta fica aqui feita – quantos praticantes ou professores sabem o efeito prāṇico e fisiológico dos āsanas? Quantos professores dão importância a isso? Quantos professores se importam com efeito terapêutico a nível dos órgãos internos que a pratica proporciona?

Outros dizem que já tentaram de tudo, invertida sobre a cabeça, duas horas em padmāsana, 3 horas de prāṇāyāma, etc, mas “nada de kundalini”, nenhuma experiência mística aconteceu, e então também se fartaram!
Outros acham que como já praticaram muito āsana e muito prāṇāyāma, dizem que chegou o momento de se dedicarem apenas ao estudo de vedanta, então negligenciam a prática de āsana e de bhandas e de prāṇāyāma, muitos deles até negligenciam a prática de karma Yoga. Que contradição!  
Admiro professores com mais de 40 anos de prática que ainda continuam a acordar cedo de manhã para praticar, mesmo quando dão aulas muito cedo, em retiros e cursos por exemplo. Para eles a prática de Yoga é integral e integrada no seu dia-a-dia. Por integral quero dizer que não negligenciam nenhum dos angas. Por integrada quero dizer que o que ensinam é sem dúvida o que praticam. Estes são um exemplo!
Admiro os professores que relembram o poder curativo e regenerativo do Yoga, que aliás pode ser confirmado se lerem este três tratados de Yoga, nomeadamente Hatha Yoga Pradipika, Shiva Samhita e Gheranda Samhita. Nestas três obras pode-se ler o efeito curativo que as posturas, o prāṇāyāma, os mudrāse os bhandas têm.
 Posso ainda contribuir com dois exemplos, que por serem verdadeiros, são dois casos práticos e prova do poder curativo do Yoga. É exemplo de dois alunos a quem dou aulas que beneficiaram muito da prática de Yoga. Um deles estava à espera de cirurgia. Desde que começou praticar foi regular. Passados seis meses o médico disse que a cirurgia não era necessária. O outro aluno, também regular, no espaço de um ano reduziu e abandonou por completo a medicação que estava a tomar. De notar que ambos conseguiram desenvolver prática pessoal e regular para além das aulas. Ah e não foi preciso muito tempo, ambos no espaço menos um ano tiveram imensos benefícios.
Penso que um professor de Yoga deve dar a conhecer o poder curativo do Yoga, pois essa é uma das suas funções, e essa é uma mensagem presente nos tratados de Yoga. Por outro lado, se um professor já se magoou a praticar, provavelmente essa á a mensagem que irá passar aos alunos, alertando incessantemente os alunos para os perigos, (o que está certo, claro) mas não deverá nunca negligenciar a divulgação dos benefícios. Muitos praticantes são professores e muitos destes já se magoaram muito, claro porque a sua atitude não foi a melhor, talvez estivessem a competir com eles mesmos e esqueceram-se de não serem violentos com o corpo e mente. Assim sendo, projetam uma mensagem baseada na sua frustração, baseada na experiência que tiveram dum caminho que os ensinou, mas que sem dúvida não foi o melhor.   

 É que muitos professores alertam para os perigos físicos de determinadas práticas, mas a vida pessoal deles é repleta de perigos ainda maiores, como conduzir em excesso de velocidade, ou então praticar desportos radicais, onde o corpo é sujeito a condições extremas e muito perigosas. Falam de desgaste articular, por exemplo, e vão correr ou jogar futebol onde o desgaste é imensamente maior e os benefícios terapêuticos para os órgãos internos ficam anos-luz aquém dos benefícios, por exemplo, da prática de Yoga regular.
A prática quando é feita com atitude certa, quando é usada como palco para a reflexão sobre a natureza essencial de cada um, quando tem como propósito aumentar a longevidade, então torna-se num espaço/tempo sagrados, um espaço onde a cura física e espiritual acontece.

sábado, 19 de maio de 2012


O professor e os āsanas, perigo escondido!



Depois de conversar com uma pessoa amiga que já não via há muito tempo, dei por mim a refletir sobre algumas ideias, algumas presentes neste pequeno texto.

Essa pessoa magoou-se durante uma aula de Yoga, e isso já eu sabia. Decidi inquirir e descobrir mais a fundo como tinha acontecido a lesão.

Para salvaguardar e respeitar as pessoas envolvidas, ou seja professor e aluno (não quer dizer que sejam do género masculino), não direi nomes, nem revelarei a postura em que a pessoa se magoou.  

O aluno/a sentiu dor na postura, uma dor desconfortável, como todas as dores são. A dor era na articulação, pior ainda. Mas como de mal se pode ir para pior, foi o que aconteceu, a permanência naquela situação de desconforto e perigosa para a articulação deu origem a algo lamentável.

Sabem qual foi o resultado? O resultado foi uma lesão que não curava mesmo depois de semanas! Assim sendo, foi necessário perceber o que se passava com a articulação, ou melhor, para dizer a verdade, o que se passava com as articulações.

Exames feitos, relatórios entregues, o somatório final de duas lesões. Foi necessário fisioterapia, aliás ainda está a ser, para que a recuperação, que espero que possa ser total possa vir a acontecer.

Ao que parece, o aluno/aluna foi falar com o professor/a e contou-lhe o sucedido. O professor/a respondeu que fez tudo bem e que voltava a fazer tudo de novo. Ainda disse que se calhar existem alunos com lesões latentes e que o Yoga pode despoletar essas lesões escondidas. Como não podia deixar de ser, aqui começou a reflexão.

O Yoga visa regenerar e não degenerar!

Se o professor/a fez tudo bem e o/a aluno/a se lesionou, alguma coisa correu muito mal.

A função do professor é zelar sempre pela saúde do aluno. Se a prática de āsanas tem, entre outras funções importantes, a de aumentar a vitalidade, aumentar a saúde, movimentar o prāṇa, etc., ora tudo correu mal!
O aluno perdeu saúde articular e por consequência vitalidade! E claro, se existe dor, seja ela qual for, diz a tradição que é uma estagnação do prāṇa, ou seja não estava a haver movimentação do prāṇa. Será isto Yoga? NÃO!

A função do professor é a de alertar para os perigos quando eles existem, e verificar se o aluno está apto para determinada técnica. Deverá convidar o aluno ser verdadeiro com ele mesmo e a desfazer a postura se houver desconforto.

“Sthirasukhamāsanam”, Yoga sutras, sutra 46, cap II Sādhana Pāda   

Sthiram significa estável, firme, quieto. Sukham significa confortável.

O āsana deverá ser firme e confortável. Foi o caso? Não. É o aluno que deverá saber isso? Não! É a função do professor, direi mesmo mais, é o dever do professor perceber se o aluno está confortável e agir para o por confortável e em segurança.  

Na Bhagavadgītā, também conhecida por Vedasāra, a condensação dos Vedas, ou a essência do Veda, encontramos outra definição de Yoga

“…Dhanañjaya…samatva yoga ucyate”, “Ó Dhanañjaya…a atitude de equilíbrio é chamada de Yoga”. V. 48 Cap. II


Muitas vezes o aluno esconde o desconforto por ter vergonha, por poder estar a ser levado pelo ego, enfim são muitas as razões…Bom é o professor que se apercebe disso e o trás para samatva, para um estado de equilíbrio, um estado de equanimidade.

O que será esse estado? No que diz respeito à prática de āsana, e mais especificamente a este caso particular, será refazer a postura para que a equanimidade seja possível. A postura deverá ser sem dor articular. A postura deverá permitir uma respiração completa e total. A postura deverá ser de tal forma confortável que seja possível ao praticante observar e dirigir o movimento o prāṇa.

Sentir uma dor aguda e perigosa bem no centro da articulação e fingir de conta que não é nada, não pode nunca ser chamado de equanimidade, pode sim ser chamado de hisa, violência, e mais não direi para não perder a objectividade.

Suponham agora este exemplo. O aluno por acaso era um atleta de competição federado. Um atleta que procurava no Yoga aumentar a sua tranquilidade e calma. Situação muito comum hoje em dia. O professor corre o sério risco de poder ser culpado pelo sucedido. O resto do desenvolvimento podem imaginar.

Será um professor bom por conseguir por os alunos a fazer “āsanas avançados”?

Será um professor bom por exigir aos alunos aquilo que eles não podem dar?

Será um professor bom aquele que ajusta os alunos?

Professor bom é aquele que nunca esquece a segurança dos alunos!
Aluno bom é aquele que usa a sua inteligência em prol da sua segurança!

Professor bom é aquele que reconhece as diferentes necessidades dos diferentes alunos e age em função disso!
Aluno bom é aquele que reconhece e aceita as suas limitações!

Professor bom é aquele que fica contente quando os alunos usam a liberdade a que têm direito, para não fazer o que o professor sugere, se isso for demais para ele!
Aluno bom reivindica os seus direitos, nomeadamente liberdade para não fazer, e claro o importante e mundial direito à saúde!

Professor bom é aquele que convida o aluno a não se lesionar!
Aluno bom é aquele que não se deixa lesionar pelo professor!


Professor bom tem compaixão e claro, tem sabedoria!
Aluno bom tem compaixão e claro, tem sabedoria!

Professor bom é aquele que está atento a cada instante, sempre conscientemente presente na acção de ensinar!
Aluno bom é aquele que está atento a cada instante, sempre conscientemente presente na acção de aprender!


Podia estender-me mais mas penso que foi suficiente.

Serve o presente texto para ajudar professores e alunos para que a atitude seja sempre a mais harmoniosa e saudável dentro da prática. Afinal de contas o Yoga é algo de muito auspicioso, possa ele abençoar ambos, professor e aluno!

Paulo Vieira


domingo, 13 de maio de 2012

Os Valores Universais

Gloria Arieira
O ser humano está naturalmente inserido num contexto social, relacionando-se com outros e com situações variadas. Busca uma completa satisfação pessoal, e para isto, tanto quanto para uma plena participação neste mundo, é necessário que seus deveres e direitos estejam bem estabelecidos, valorizados e claros para si mesmo.
Os deveres são tudo aquilo que compete a uma pessoa. Aquilo que deve ser feito por uma determinada pessoa e não por outra, dada a peculiaridade única de cada um. Os direitos, tudo aquilo que vem para nós, se os outros fizerem sua parte, seu papel correspondente. Como por exemplo, se eu faço meu papel de manter meu ambiente de trabalho organizado, meus colegas terão garantidos seus direitos a um lugar agradável.
Deveres e direitos, quando respeitados numa sociedade, trazem ganhos, vantagens para todos. Mas para isto, deve haver o entendimento sobre os deveres específicos de cada um para que possam conseqüentemente ser respeitados.
É esta própria clareza que adequa o ser humano à sociedade, dando-lhe a ferramenta para poder, e não só querer, respeitar a lei para a harmonia entre os seres humanos e consigo mesmo.
Pouca utilidade existe em somente afirmar “faça isto”, “não faça aquilo”. Enquanto houver controle por parte de outros, pode ser que determinada lei seja seguida. Mas não podemos chamar de valor pois não possui um valor verdadeiro e tão somente temor. Quando são reconhecidos os ganhos que teremos ao seguirmos os chamados valores, e as perdas ao ignorá-los, poderemos então implementá-los à nossa vida.
Temos então que descobrir como são valiosos os valores. Valiosos para nós mesmos e para o bom convívio com os outros.
Valores como a verdade, a não-violência, e tantos outros serão seguidos de maneira natural se os ganhos e as perdas conseqüentes ao segui-los forem analisados.
Quando não há a compreensão adequada dos valores, eles estarão presentes pela metade e seremos capazes de abrir mão deles em determinados momentos, agindo de maneira conveniente, e criando conflitos na mente.
Estar livre de conflitos e em paz é o desejo primordial do ser humano e possível de ser satisfeito ao se descobrir o valor dos valores.
Em um livro muito claro, intitulado “O Valor dos Valores”, Swami Dayananda Saraswati nos ensina a apreciar cada valor e adquirir seu valor de forma pessoal e completa.

Este texto foi retirado de:

Vidya Mandir - desde 1984
Centro de Estudos de Vedanta e Sânscrito
onde foi originalmente publicado.
Este texto foi aqui publicado com a autorização da autora Prof. Glória Arieira

Quanto sabemos sobre a respiração yogika?

de
Pedro Kupfer
 

Existe uma espécie de consenso em torno do que se conhece como prana kriya, respiração completa, ou respiração yogika. Esse consenso afirma que há três fases na respiração: alta, média e baixa, e que essas três fases devem ser feitas seguindo uma ordem determinada. Essa ordem seria de baixo para cima ao inspirar, e de cima para baixo ao expirar. Nove entre dez professores de Yoga irão ensinar a respiração completa dessa forma.
No entanto, existem outras maneiras de se fazer a respiração completa. O mais interessante é que cada uma dessas maneiras de respirar usando toda a capacidade pulmonar produzem efeitos diferentes. Todavia, esses efeitos podem variar de pessoa para pessoa. Apresentaremos aqui três diferentes maneiras de usar essa respiração completa, e veremos seus diferentes efeitos nos planos físico, energético e psíquico. Para efeitos de simplificar estas instruções, dividiremos a respiração, como se faz habitualmente, em suas três fases:
1) Respiração baixa ou abominal,
2) Respiração média ou intercostal, e
3) Respiração alta ou sub-clavicular.
Daremos então o número 1 à respiração baixa, o número 2 à respiração média, e o 3 à respiração alta. Agora, iremos explorar com cuidado cada uma dessas fases.
1) Respiração baixa ou abominal (adhama).
Coloque as palmas das mãos no abdômen para perceber o movimento do diafragma. Respirando pelas narinas, esvazie completamente os pulmões, contraindo o ventre. Permaneça por um instante sem ar. Deixe-o agora entrar devagar, soltando e expandindo naturalmente a musculatura do baixo ventre e depois a parede abdominal, conforme for enchendo a parte baixa dos pulmões. Não retenha. Ao expirar, recolha os músculos abdominais. Continue respirando assim, relaxando o abdômen ao inspirar e contraindo-o levemente ao expirar.
Após ter dominado o movimento anteriormente descrito, execute esta respiração no ritmo mais lento que conseguir, prolongando ao máximo os tempos de inalação e expiração. Com a prática, você poderá acrescentar retenções de alguns segundos no final da inspiração e da expiração, o que irá aumentar a capacidade pulmonar e a vitalidade. Posteriormente, aumentará gradativamente a retenção, até chegar a quadruplicá-la. Depois, o ritmo começará a se encaixar naturalmente.
Esta é a respiração que se processa na parte baixa dos pulmões. Permite um maior fluxo de ar e exige o mínimo de esforço fisiológico. Equivale a aproximadamente 60% do volume total de ar que pode ser assimilado em uma inalação. Fazemos esta respiração diafragmática durante o sono, em estados de descanso, relaxamento ou meditação.
A respiração baixa vitaliza os órgãos abdominais, melhorando o seu funcionamento. Elimina a ansiedade e predispõe a uma atitude mais aberta e receptiva. Psicologicamente, corresponde a estados de harmonia, paz, realização pessoal, expansão do ser. A pessoa relaxa e tende a aceitar a realidade tal como é.
2) Respiração média ou intercostal (madhyama).
A respiração média movimenta-se predominantemente na região intercostal. Nesta respiração, a estrutura ósseo-muscular do tórax expande-se lateralmente, com o trabalho do diafragma. Equivale a cerca de 30 % do volume de ar que pode ser inspirado de uma só vez. Está sempre relacionada à respiração alta ou baixa.
Apóie as palmas das mãos na região entre as costelas, logo abaixo do peito, tocando os dedos médios no centro do esterno. Inspire profundamente pelas narinas, e procure perceber o movimento da região intercostal, que irá expandir lateralmente. Quando isso acontece, os dedos se afastam na altura do esterno. Não retenha o ar. Expire e perceba o movimento de recolhimento da caixa torácica. No final da expiração, os dedos médios voltam a se tocar no centro do esterno. Continue assim, percebendo a expansão dos flancos, na região dorsal e nas costas. Depois de compreender a mecânica desta maneira de respirar, reduza progressivamente o ritmo prolongando a inspiração e a expiração. Efeitos: de modo geral, podemos afirmar que esta maneira de respirar aumenta a força de vontade, a concentração e a vivacidade mental.
3) Respiração alta ou sub-clavicular (uttama).
Acontece na região clavicular, na parte superior do tórax. Se utilizada exclusivamente, seria a pior maneira de respirar, pois exige um grande esforço em relação à quantidade ínfima de ar que entra nos pulmões. A respiração alta deve ser utilizada combinada com as outras fases, pois ela permite encher a parte superior dos pulmões. Contudo, deve-se evitar tensionar os ombros e a musculatura do pescoço. É equivalente a 10 % do volume total de ar inalado. Psiquicamente, se relaciona a quadros de nervosismo e angústia, na maioria das vezes somatizada em forma de tensão muscular no abdômen e no tronco. Reflete medo de atuar ou de expressar-se.
Para treinar a respiração alta, coloque as mãos na parte superior do peito, logo abaixo das clavículas. Ao inspirar, sinta essa região se expandir. Ao expirar, perceba como o esterno desce. Torne o ritmo tão lento como puder. Tendo dominado essa maneira de respirar, acrescente ritmo e, eventualmente, retenções com os pulmões cheios e vazios.

Respiração completa I
Esta é uma das três possíveis combinações equilibradas das três fases que estudamos anteriormente. A inspiração começa enchendo a parte baixa, logo a região intercostal e finalmente a parte alta dos pulmões. A expiração se faz de forma oposta: você solta o ar da parte alta, depois da parte média e por fim da região abdominal. Todo o aparelho respiratório funciona harmoniosamente, assimilando uma maior quantidade de energia ao inspirar. É a manifestação da personalidade unificada e livre, expansiva e consciente.
Resumo
A inspiração é feita de baixo para cima (1-2-3, ou baixa, média e alta).
A expiração, de cima para baixo (3-2-1, ou alta, média e baixa).
Efeitos da respiração completa I
A respiração completa promove o aumento da capacidade pulmonar, da resistência e do tônus geral do organismo, desintoxicação e oxigenação celular, rejuvenescimento e tonificação. No aspecto psíquico, manifesta-se numa atitude aberta em relação ao mundo, expansão total de si, concentração, entrega, felicidade.
Aumentando a elasticidade da estrutura ósseo-muscular, esta forma de respirar dissolve tensões somatizadas na região abdominal, nos ombros e no pescoço.
 
Respiração completa II
Esta respiração é exatamente oposta à anterior, em termos da ordem em que os pulmões são preenchidos: a inspiração começa por cima, expandindo a região das clavículas, depois a intercostal e finalmente a região do plexo solar. A expiração se faz de forma oposta: solta-se o ar da parte baixa, depois da região intercostal e finalmente da região clavicular.
Ao inspirar, o diafragma se expande para baixo, pressionando os órgaõs internos. A parede abdominal permanece imóvel levemente recolhida para dentro, em u??iyana bandha. Os músculos intercostais mantêm a forma e integridade do tórax. As costelas se expandem lateralmente.
Nesta maneira de respirar, além do u??iyana bandha, é conveniente manter o m™la bandha, a contração do assoalho pélvico, tanto ao inspirar como ao expirar, bem como durante as retenções, com os pulmões cheios ou vazios. O desenho da próxima página ilustra a maneira de respirar que estamos descrevendo aqui.
Resumo
A inspiração é feita de cima para baixo (3-2-1, ou alta, média e baixa).
A expiração, de baixo para cima (1-2-3, ou baixa, média e alta).
Efeitos da respiração completa II
Desde o ponto de vista psicológico, esta maneira de respirar favorece o estado de atentividade, a paz e a clareza mental. Se você não está acostumado a respirar desta maneira, existirá a dificuldade adicional de ter que prestar mais atenção à mecânica do exercício até conseguir dominá-la. Isso poderá interferir, no início, na apreciação dos efeitos que esta forma de respirar têm sobre a paisagem interior.
Fisiologicamente, ela promove um considerável aumento da capacidade pulmonar. Ao estar associada aos bandhas, ajuda na construção do tônus muscular na região do tronco, outorgando maior resistência física e vitalidade.
Um fato curioso: esta é a maneira natural de respirar usada por todos os praticantes durante os asanas, associada aos movimentos. Especialmente, aos movimentos de elevação dos braços durante a saudação ao sol (surya namaskar). Tente fazer os primeiros movimentos da saudação ao sol usando a respiração completa I. Depois, faça o mesmo associando a esses mesmos movimentos a respiração completa II e compare. O que é mais fácil? O que é mais natural? Você consegue de fato inspirar usando a respiração completa I enquanto eleva os braços?

Respiração completa III
Esta forma de respirar combina a inspiração da respiração completa II com a expiração da respiração completa I. Começa-se inspirando por cima, expandindo a parte alta dos pulmões, depois a intercostal e finalmente a região do plexo solar. A expiração acontece nessa mesma ordem: solta-se o ar da parte alta, depois da região intermediária, e finalmente da área do ventre.
Resumo
A inspiração é feita de cima para baixo (3-2-1, ou alta, média e baixa).
A expiração se faz da mesma forma, de cima para baixo (3-2-1, ou alta, média e baixa).
Efeitos da respiração completa III
Os efeitos desta última forma de respiração completa são iguais aos da respiração anterior. Similarmente, a dificuldade em executá-la e a atenção extra que ela requer podem interferir, no início, na percepção dos seus efeitos. Persevere e observe!

Artigo escrito por Pedro Kupfer publicado originalmente em www.yoga.pro.br em 08 de Maio de 2010. Este artigo foi aqui publicado com a autorização do autor