Conversão religiosa é uma forma de violência!!!
No decorrer da leitura de um artigo de felicitação dirigido ao Pujya Swami Dayananda Saraswati presente na Newsletter do Arsha Vidya e referente ao mês de Maio, reparo num parágrafo que me deixou indignado. O artigo é referente à atribuição do titulo de Adi Shankaracarya a Swami Dayananda. (Podem ler mais aqui)
A certa altura da leitura encontro o seguinte:
"Durante a visita do Pápa à Índia, o Pápa disse que nos primeiros 1000 anos os Europeus foram convertidos ao Cristianismo. Nos segundos 1000 anos Americanos e Africanos foram convertidos. Nos próximos 1000 anos os Asiáticos deveriam ser convertidos ao Cristianismo. Pujya Swamiji objectou sobre isto ao Pápa e deu um pensamento profundo numa única frase "Conversão é violência". (Excerto retirado da revista e traduzido para o Português).
É preciso que se divulgue o seguinte!
Uma das formas de actuação deste movimento religioso agressivo na Índia é pagar às famílias pobres e necessitadas a instrução e educação dos seus filhos em escolas Católicas. Ajudam com a condição de que se convertam, com a condição de que deixem para trás toda a tradição e cultura em que nasceram. Isto é lamentável e direi mesmo condenável! Vejamos juntos porquê!
A família assenta em alguns pilares fundamentais que lhe conferem estabilidade. União é um pilar. Amor é um deles. Amizade é outro. Confiança é mais um. Tradição familiar outro mais. Valores éticos mais um. Religião é outro. E por aí vai!
Quanto ao Amor, à amizade e à confiança não existe muito para dizer, é do senso comum a importância que eles desempenham na manutenção, saúde e vitalidade de uma família!
Quanto aos valores éticos, podemos fazer a seguinte pergunta - Será ético converter famílias Hindus, ou Muçulmanas ao Catolicismo mesmo que isso signifique o aniquilamento de toda uma tradição?
Digo aniquilamento de toda uma tradição, pois para aquelas crianças isso será o começo do estudo de uma nova cultura. Ou seja, uma cultura imposta. É uma medida de puro marketing agressivo da Religião Católica, que se aproveita da necessidade das famílias pobres para vender a sua religião. Nesse processo de compra, as famílias interrompem a tradição, quebrando uma ligação de milénios com os seus antepassados. E a partir desse momento, a partir do momento em que esse elo seja quebrado, será muito difícil voltar a unir o passado com o presente, será muito difícil manter a singularidade e a beleza típicas de uma tradição. Todos os rituais, toda a história religiosa, todo o conhecimento religioso será interrompido com essa medida de marketing, que apenas visa a expansão.
A Religião Católica não se preocupa com os valores e tradições de nenhuma cultura, aliás preocupa-se sim! Preocupa-se em destruir esse valores, preocupa-se em interromper o maravilhoso fluxo de conhecimento passado de geração em geração. Preocupa-se em terminar com a diversidade cultural e religiosa. Isto é uma forma de violência muito grave, pois não é apenas dirigida a uma pessoa em particular, mas é dirigida a todo um passado, é violência que atinge os ancestrais!
A conversão religiosa, se acontecer, deve ser sempre um acção voluntária. Deve ser pensada e feita apenas pela pessoa que sente mais afinidade por outro sistema e então decide converter-se.
Mais direi, compactuar com essa forma de violência é apoiá-la! É também uma forma de violência, violência passiva!
Se um dos objectivos da religião levar as pessoas à paz, a Religião Católica faz precisamente o contrário! É agressiva na sua abordagem, é ditatorial. Não respeita as diferenças.
Se outro dos objectivos da religião é "levar as pessoas até Deus", vejam bem a ineficácia da Religião Católica. Simplesmente não tem capacidade de levar a cabo essa tarefa. Não conheço ninguém praticante Católico que tenha "descoberto Deus". Nem mesmo padres. Nem mesmo Bispos. Direi mesmo, nem o Pápa.
Agir em prol do bem é desapoiar o mal, tirar o sustento daquilo que alimenta o mal. A conversão religiosa é sem dúvida um mal, um mal que irá acabar.
Paulo Vieira
Este é um espaço dedicado ao estudo e à divulgação do Dharma, do Yoga e do Vedānta
sábado, 2 de junho de 2012
sexta-feira, 1 de junho de 2012
भगवान् O significado da palavra Bhagavān
Bhagavān
é um dos nomes dado à manifestação. É uma palavra Sânscrita que representa o
cosmos, o Absoluto.
A
palavra Bhagavān aparece na famosa obra literária Bhagavadgītā, que é um
capítulo do extenso Mahābhārata, o grande épico
Indiano escrito por Veda Vyāsa, um grande ṛṣiḥ, sábio. O Mahābhārata insere-se num tipo de literatura chamada itihāsa, que por sua vez se insere dentro da smṛti. Smṛti
é literatura de autoria humana que reflecte sobre a Śruti, sobre os Vedas.
Itihāsa significa história, narração, quer dizer literalmente “assim
aconteceu”.
A definição de Bhagavān é-nos dada pelo Swami Dayanda
Sarasvati – “bhagaḥ asya asti iti
bhagavān”, aquele que tem bhaga é chamado de Bhagavān.
O que é bhaga?
No Viṣṇu-purāṇa encontramos a definição – “aiśvaryasya samagrasya vīrasya yaśasaḥ śriyaḥ jñānavairāgyayoścaiva ṣaṇṇāṁ bhaga itīraṇā”,(Viṣṇu-purāṇa; 6.5.74).
Total e absoluta suserania (soberania), aiśvarya , poder, vīra, abundância, śrī, desapego, vairāgya, fama, yaśas e conhecimento, jñāna são conhecidas como bhaga.
Bhagavān
é quem possui todas estas qualidades ou virtudes na sua totalidade.
-
Bhagavān possui todo o conhecimento, toda a sabedoria, sarva jñāna. Para ter todo o conhecimento, uma condição importante e imprescindivel tem que existir – ser livre de toda a ignorância. Assim sendo, o simples facto de possuir uma mente é um indicador óbvio de ignorância. A mente tem como função o conhecimento e o reconhecimento de todo o meio envolvente externo bem como interno. Seres vivos, pessoas, factos e situações fazem parte do meio dito externo. Os pensamentos, as memórias, sentimentos e emoções, e sensações fazem parte do meio interno. Relativamente a ambos os meios, externo e interno, sou ignorante, reconhecendo que há muito por conhecer. Para quem tem uma mente, ser todo conhecedor, sarva jñāna, é um feito impossível de alcançar. Reconheco que o saber total é o somatório de todas as coisas que conheço acrescido de todas as coisas de que sou ignorante.
Bhagavān possui todo o conhecimento, toda a sabedoria, sarva jñāna. Para ter todo o conhecimento, uma condição importante e imprescindivel tem que existir – ser livre de toda a ignorância. Assim sendo, o simples facto de possuir uma mente é um indicador óbvio de ignorância. A mente tem como função o conhecimento e o reconhecimento de todo o meio envolvente externo bem como interno. Seres vivos, pessoas, factos e situações fazem parte do meio dito externo. Os pensamentos, as memórias, sentimentos e emoções, e sensações fazem parte do meio interno. Relativamente a ambos os meios, externo e interno, sou ignorante, reconhecendo que há muito por conhecer. Para quem tem uma mente, ser todo conhecedor, sarva jñāna, é um feito impossível de alcançar. Reconheco que o saber total é o somatório de todas as coisas que conheço acrescido de todas as coisas de que sou ignorante.
- Bhagavān é ilimitadamente poderoso, ananta vīrya. Todos este cosmos, toda esta manifestação é prova de poder, śakti. O poder que deu origem à materia, o poder que existe para sustentar a matéria e o poder necessário à resolução. Bhagavān tem este poder levado ao infinito, ele mesmo é o infinito, ananta.
- Bhagavān é totalmente livre de gostos e aversões, totalmente desapegado, tem em absoluto a qualidade vairāgya. Para que se possa ser ananta vīrya, naturalmente se terá que ter vairāgya. Para que novos seres vivos nasçam, outros têm que morrer. O universo manifestado muda constantemente e isso é uma prova de total vairāgya.
- Bhagavān é aquele que é conhecido por todos, aquele que tem mais fama, yaśas. Todos reconhecem a infinita vastidão e magnitude suprema de Bhagavān. Assim ele é sem dúvida o mais famoso. Mesmo a fama do homem mais famoso se insere em Bhagavān, uma vez que Bhagavān é a causa tanto do homem bem como da sua temporária fama. A fama de Bhagavān, pelo contrário é eterna, nitya yaśas, uma vez que Bhagavān também é eterno.
- Bhagavān é fonte inesgotável de todos os recursos, de toda a abundância, de toda a riqueza, śrī. O homem durante o seu período de vida acumula bens materiais que ficam quando ele parte, quando morre. Na realidade toda abundância, śrī é Bhagavān. A água dos oceanos, o ar que respiramos, todos os seres vivos, o Sol, toda essa abundância de recursos é Bhagavān.
- Bhagavān é também aquele a quem nenhuma lei se impõe, ele é o somatório de todas as leis, a causa de todas as leis, ele “é” também na forma de leis. Bhagavān é o único senhor absoluto e detém a qualidade chamada aiśvarya, total soberania. Podemos dizer que é o grande Imperador. O ser humano que é dotado de grande inteligência, capacidade e meios para a usar, apenas pode usar as leis presentes na manifestação. A engenharia é um exemplo desse uso, a biologia é outro exemplo, a química mais um exemplo. Em todos estes exemplos, nunca o homem foi o criador de uma sequer lei, descobriu-as mas não as criou. Usa-as mas não as modifica. Equaciona-as mas não as transforma. Aquele que tem o controlo absoluto é Bhagavān.
Paulo
Vieira, Junho 2012
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