segunda-feira, 21 de maio de 2012


Mantendo a visão,


A palavra Yoga faz lembrar uma série de posturas corporais, pelo menos é assim para a maior parte das pessoas. Para estas pessoas o Yoga é igualado a um tipo de exercícios físicos vindos do oriente, para os quais é necessário muita flexibilidade e um gosto um pouco exótico e diferente.
Para outras pessoas um pouco mais esclarecidas, Yoga é mais do que isso, é também um conjunto de técnicas respiratórias que têm o objetivo de aumentar a energia e a vitalidade.
Outras pessoas referem-se ao Yoga dizendo que é mesmo disso que estão a precisar, de relaxar, de descontrair, de não pensar em nada.

Hoje em dia existem muitas escolas e ginásios onde as pessoas encontram exatamente aquilo que foi descrito em cima. E para essas pessoas isso é perfeito. À segunda-feira têm dança de salão. À terça-feira têm cinema. À quarta-feira e sexta-feira têm Yoga. À quinta-feira têm aula de aeróbica e ao final de semana vão para fora.

Será o Yoga um atividade como a aeróbica ou o cinema?

Para muitas pessoas claro que sim. Para outras claro que não.
As que respondem que sim são as menos informadas relativamente ao Yoga. As que respondem que não são definitivamente as mais informadas.

Vamos às origens.

O Veda ou Vedas são as Sagradas Escrituras Indianas. São escrituras muito antigas com mais de 5000 anos. Esta literatura que também é chamada Srhuti, Shru é a raiz verbal do verbo ouvir. É assim chamada, shruti, pois não é de autoria humana, mas foi “vista” por Sábios ou Videntes, Rshis. Foi ouvida, foi revelada na forma de Hinos, Hinos Védicos chamados Mantras.
Inicialmente o Veda era apenas um. Vyasa, também conhecido por Veda Vyasa dividiu o Veda em quatro porções para que pudesse ser mais facilmente memorizado, dividindo assim o fardo pesado por quatro dos seus discípulos. Assim sendo os Vedas são quatro: Rg, Sama, Atharva, Yajur. O Yajurveda divide-se em duas parte ainda, Krsha Yajurveda e Shukla Yajurveda.

Estes Mantras são de dois tipos tendo em conta o seu objetivo. Podem ser prescritivos de ações propriamente ditas, mencionando os meios e os benefícios dessas ações, ou podem ser relativos ao ensino do conhecimento da natureza do Universo, relativos ao ensino do conhecimento da natureza humana.
A primeira porção pode ser chamada então de karma kanda, parte relativa às ações, ou purva bhága, a primeira parte. A segunda parte pode ser chama jñána kanda, parte relativa ao conhecimento, ou veda anta, a última parte.

A última parte é a que nos interessa para podermos continuar a exposição. Veda anta ou jnana kanda trata do ensino do conhecimento espiritual, ou seja ensina a real natureza do ser humano. A este ensino se chama Jñánayoga. Este ensino pressupõe uma certa preparação  e aptidão do individuo, pressupõe no mínimo que ele tenha o desejo de aprender este tópico, o  desejo de autoconhecimento.

Para que este autoconhecimento aconteça, alguém tem que assumir o papel de professor, alguém tem que ter a mestria para o fazer. A pessoa que representa esse papel na Tradição Védica é chamado Guru. Gu quer dizer escuridão ou trevas. Ru quer dizer aquele que ilumina, aquele que remove a escuridão. A escuridão representa metaforicamente a ignorância. A luz representa o conhecimento.

Pressupõe-se claro que o Guru saiba o caminho a percorrer, que saiba o conhecimento que irá ensinar e que então ensine, ilumine, que mostre o caminho.

O aluno porém é ignorante da sua natureza essencial, acha ser quem de facto não é. Este equivoco, esta ignorância e erro juntos, estão na base de uma busca incessante de auto aceitação, expressando-se por um constante precisar de “fazer algo” para me sentir bem, para me sentir completo, para me auto aceitar e sentir-me em paz comigo mesmo.
Surge a necessidade de conquistas materiais, emocionais, a necessidade de estatuto e poder, fama e glória, dinheiro, etc.
A pessoa que busca tudo isto pensa completar-se em cada objeto buscado, mas de facto, em cada objeto procurado a pessoa está inconscientemente a procurar-se, tendo como resultado final perder-se de si mesma.
É por causa da sensação de incompletude que procuro aumentar as posses, a fama, o estatuto, a família, etc. Irremediavelmente a pessoa chega à importante conclusão que por mais que conquiste, por mais adquira, por mais que adicione ao que já lhe pertence, isso não chega, não é suficiente para eliminar a auto insatisfação subsequente a cada conquista, a cada aquisição.
Nasce então a pergunta – porque é que tenho tudo mas ainda assim me sinto com pressão para ter mais, ter muito mais? E mesmo quando consigo ter mais, porque é que me sinto insatisfeito? Porque é que me sinto infeliz mesmo quando tenho tudo, mulher, filhos, carro, casa, emprego, amigos, cão e gato, inteligência?

Este porquê é muito importante e é com esta pergunta que nasce o buscador espiritual. É assim que nasce a necessidade de ter algumas respostas sobre a natureza desta insatisfação e infelicidade que parece ser permanente.

O Vedanta apresenta um caminho bem definido e eficaz para a resposta a esta pergunta.

Este caminho pode ser dividido em três partes complementares e interdependentes.
A primeira parte é Karma Yoga. A segunda parte é Upasana Yoga. A terceira parte que já referi é jñána Yoga.

Karma yoga pode ser definido como o conjunto de ações a ter para uma conduta social ética. Uma conduta benéfica para todos. Resumidamente é ter atitudes e ações de contribuição positiva para com a sociedade e o meio ambiente e os seres vivos que os compõem. O Karma yoga pretende purificar a mente do individuo, pois ao fazer ações dentro da ética a mente fica tranquila e calma, é uma consequência natural.

Upásana Yoga pode ser definido como o conjunto de técnicas que visam preparar o corpo e a mente para o estágio seguinte. Estas técnicas são a prática de ásanas, pránáyámas, meditação, recitação de mantras, etc. A maior parte das pessoas apenas conhece esta pequena porção e chama-lhe Yoga…

Jñana Yoga pode ser definido como a ultima parte deste longa busca espiritual. Consiste em três partes.
Ouvir o ensinamento, ouvir o Mestre, ouvir o Guru a expor o conhecimento do Ser, Shravanam. Ou seja é a exposição ao ensinamento das Upanishads, ao Vedánta.
A segunda parte e muito importante é mananam, a reflexão no ensinamento para que as dúvida sejam eliminadas.
Nididhyasanam é a última parte e é a contemplação do ensinamento correto e limpo de dúvidas.

Yoga é muito mais do que aquela hora passada em cima do tapete de prática, de facto é nas restantes horas fora do tapete que o yoga deve ser praticado. A conduta comportamental e a reflexão sobre a natureza de si mesmo devem ser constantes num Yogi, e claro a pratica do tapete também!


Paulo Vieira

Sem comentários:

Enviar um comentário