Mantendo a visão,
A palavra Yoga faz lembrar uma série de posturas corporais,
pelo menos é assim para a maior parte das pessoas. Para estas pessoas o Yoga é
igualado a um tipo de exercícios físicos vindos do oriente, para os quais é
necessário muita flexibilidade e um gosto um pouco exótico e diferente.
Para outras pessoas um pouco mais esclarecidas, Yoga é mais
do que isso, é também um conjunto de técnicas respiratórias que têm o objetivo de
aumentar a energia e a vitalidade.
Outras pessoas referem-se ao Yoga dizendo que é mesmo disso
que estão a precisar, de relaxar, de descontrair, de não pensar em nada.
Hoje em dia existem muitas escolas e ginásios onde as
pessoas encontram exatamente aquilo que foi descrito em cima. E para essas
pessoas isso é perfeito. À segunda-feira têm dança de salão. À terça-feira têm
cinema. À quarta-feira e sexta-feira têm Yoga. À quinta-feira têm aula de
aeróbica e ao final de semana vão para fora.
Será o Yoga um atividade como a aeróbica ou o cinema?
Para muitas pessoas claro que sim. Para outras claro que
não.
As que respondem que sim são as menos informadas
relativamente ao Yoga. As que respondem que não são definitivamente as mais
informadas.
Vamos às origens.
O Veda ou Vedas são as Sagradas Escrituras Indianas. São escrituras
muito antigas com mais de 5000 anos. Esta literatura que também é chamada Srhuti,
Shru é a raiz verbal do verbo ouvir. É assim chamada, shruti, pois não é de
autoria humana, mas foi “vista” por Sábios ou Videntes, Rshis. Foi ouvida, foi
revelada na forma de Hinos, Hinos Védicos chamados Mantras.
Inicialmente o Veda era apenas um. Vyasa, também conhecido
por Veda Vyasa dividiu o Veda em quatro porções para que pudesse ser mais facilmente
memorizado, dividindo assim o fardo pesado por quatro dos seus discípulos.
Assim sendo os Vedas são quatro: Rg, Sama, Atharva, Yajur. O Yajurveda
divide-se em duas parte ainda, Krsha Yajurveda e Shukla Yajurveda.
Estes Mantras são de dois tipos tendo em conta o seu
objetivo. Podem ser prescritivos de ações propriamente ditas, mencionando os
meios e os benefícios dessas ações, ou podem ser relativos ao ensino do conhecimento
da natureza do Universo, relativos ao ensino do conhecimento da natureza
humana.
A primeira porção pode ser chamada então de karma kanda,
parte relativa às ações, ou purva bhága, a primeira parte. A segunda parte pode
ser chama jñána kanda, parte relativa ao conhecimento, ou veda anta, a última
parte.
A última parte é a que nos interessa para podermos continuar
a exposição. Veda anta ou jnana kanda trata do ensino do conhecimento
espiritual, ou seja ensina a real natureza do ser humano. A este ensino se
chama Jñánayoga. Este ensino pressupõe uma certa preparação e aptidão do individuo, pressupõe no mínimo que
ele tenha o desejo de aprender este tópico, o
desejo de autoconhecimento.
Para que este autoconhecimento aconteça, alguém tem que
assumir o papel de professor, alguém tem que ter a mestria para o fazer. A pessoa
que representa esse papel na Tradição Védica é chamado Guru. Gu quer dizer
escuridão ou trevas. Ru quer dizer aquele que ilumina, aquele que remove a
escuridão. A escuridão representa metaforicamente a ignorância. A luz
representa o conhecimento.
Pressupõe-se claro que o Guru saiba o caminho a percorrer, que
saiba o conhecimento que irá ensinar e que então ensine, ilumine, que mostre o
caminho.
O aluno porém é ignorante da sua natureza essencial, acha
ser quem de facto não é. Este equivoco, esta ignorância e erro juntos, estão na
base de uma busca incessante de auto aceitação, expressando-se por um constante
precisar de “fazer algo” para me sentir bem, para me sentir completo, para me
auto aceitar e sentir-me em paz comigo mesmo.
Surge a necessidade de conquistas materiais, emocionais, a
necessidade de estatuto e poder, fama e glória, dinheiro, etc.
A pessoa que busca tudo isto pensa completar-se em cada
objeto buscado, mas de facto, em cada objeto procurado a pessoa está inconscientemente
a procurar-se, tendo como resultado final perder-se de si mesma.
É por causa da sensação de incompletude que procuro aumentar
as posses, a fama, o estatuto, a família, etc. Irremediavelmente a pessoa chega
à importante conclusão que por mais que conquiste, por mais adquira, por mais
que adicione ao que já lhe pertence, isso não chega, não é suficiente para
eliminar a auto insatisfação subsequente a cada conquista, a cada aquisição.
Nasce então a pergunta – porque é que tenho tudo mas ainda
assim me sinto com pressão para ter mais, ter muito mais? E mesmo quando
consigo ter mais, porque é que me sinto insatisfeito? Porque é que me sinto
infeliz mesmo quando tenho tudo, mulher, filhos, carro, casa, emprego, amigos,
cão e gato, inteligência?
Este porquê é muito importante e é com esta pergunta que nasce o
buscador espiritual. É assim que nasce a necessidade de ter algumas respostas
sobre a natureza desta insatisfação e infelicidade que parece ser permanente.
O Vedanta apresenta um caminho bem definido e eficaz para a
resposta a esta pergunta.
Este caminho pode ser dividido em três partes complementares
e interdependentes.
A primeira parte é Karma Yoga. A segunda parte é Upasana
Yoga. A terceira parte que já referi é jñána Yoga.
Karma yoga pode ser definido como o conjunto de ações a ter
para uma conduta social ética. Uma conduta benéfica para todos. Resumidamente é
ter atitudes e ações de contribuição positiva para com a sociedade e o meio
ambiente e os seres vivos que os compõem. O Karma yoga pretende purificar a
mente do individuo, pois ao fazer ações dentro da ética a mente fica tranquila
e calma, é uma consequência natural.
Upásana Yoga pode ser definido como o conjunto de técnicas que
visam preparar o corpo e a mente para o estágio seguinte. Estas técnicas são a
prática de ásanas, pránáyámas, meditação, recitação de mantras, etc. A maior
parte das pessoas apenas conhece esta pequena porção e chama-lhe Yoga…
Jñana Yoga pode ser definido como a ultima parte deste longa
busca espiritual. Consiste em três partes.
Ouvir o ensinamento, ouvir o Mestre, ouvir o Guru a expor o
conhecimento do Ser, Shravanam. Ou seja é a exposição ao ensinamento das
Upanishads, ao Vedánta.
A segunda parte e muito importante é mananam, a reflexão no
ensinamento para que as dúvida sejam eliminadas.
Nididhyasanam é a última parte e é a contemplação do
ensinamento correto e limpo de dúvidas.
Yoga é muito mais do que aquela hora passada em cima do
tapete de prática, de facto é nas restantes horas fora do tapete que o yoga
deve ser praticado. A conduta comportamental e a reflexão sobre a natureza de
si mesmo devem ser constantes num Yogi, e claro a pratica do tapete também!
Paulo Vieira
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